Um dos desafios para a inclusão social em projetos de desenvolvimento é tornar os potenciais benefícios acessíveis aos grupos mais vulneráveis. Em um país tão diverso e vasto como o Brasil, são necessárias abordagens adaptativas, flexíveis e inovadoras, construídas de forma participativa a partir das realidades locais.
Os desafios variam desde o tamanho do território até o acesso à internet, com apenas 22% dos brasileiros de 10 anos ou mais com conectividade satisfatória. Isso aumenta a desigualdade no acesso à educação, com metade da população com mais de 25 anos sem o ensino médio completo. Particularmente nas áreas rurais, onde viviam 15% dos brasileiros de 16 a 29 anos, esse número sobe para 24,8% no Nordeste, a maior desigualdade do país.
O êxodo rural, especialmente entre os jovens, é um grande desafio para a sustentabilidade de projetos no campo. A redução da população rural do Brasil é quase o dobro da média global, com uma redução de 33,8% entre 2000 e 2002, em comparação com os 19,2% globais.
Esse contexto levou o Projeto de Desenvolvimento Rural e Competitividade Sustentável do Ceará Fase II, conhecido como São José IV, a identificar as principais barreiras à inclusão dos jovens e à promoção de oportunidades de desenvolvimento social sustentáveis.
O Edital São José Jovem
Em 2020, uma série de ações foram elaboradas exclusivamente para jovens do meio rural, especialmente na agricultura familiar, considerando gênero e outros grupos prioritários como povos indígenas, quilombolas, negros, pescadores artesanais e outras comunidades tradicionais.
O resultado foi uma iniciativa pioneira de inclusão social: o Edital São José Jovem, que apoia atividades não agrícolas e fomenta a liderança por meio da transferência direta de recursos para jovens sem intermediários. Historicamente, os projetos rurais no Brasil apoiam coletivamente organizações de produtores e cooperativas.
A estratégia foi organizada em três etapas. A primeira envolveu o cadastro e a manifestação de interesse. Quatrocentos foram selecionados para a segunda fase, que incluiu capacitação em empreendedorismo, planejamento de projetos e gestão para iniciativas agrícolas e não agrícolas. Por fim, foram escolhidos 297 projetos de intervenção entre os que concluíram a capacitação.
Os projetos de intervenção receberam apoio técnico e financeiro, com desembolso de até US$ 3.000 por projeto. 286 jovens concluíram as três etapas da chamada. A iniciativa São José Jovem investiu US$ 900.000 em projetos individuais de jovens que concluíram a capacitação e desenvolveram projetos de investimento viáveis.
Ao fornecer financiamento direto a iniciativas individuais, o edital tornou-se uma ferramenta transformadora, capaz de mudar a perspectiva de vida desses jovens, de aproveitar oportunidades e de acreditar em seus sonhos.
Foi assim que Victor Alan, de 24 anos, acabou nas passarelas da São Paulo Fashion Week 2024 apresentando sua arte em renda filé na coleção da marca Catarina Mina. Após receber apoio do Edital São José Jovem, Victor investiu em sua arte. Ele é um dos poucos artesãos que ainda trabalham com essa técnica antiga e laboriosa.