Oumou é uma jovem ativista da Mauritânia, um país onde as mulheres estão longe de estar em pé de igualdade com os homens, tanto dentro quanto fora de casa. Em sua comunidade, onde as meninas são criadas para casar e ter filhos, Oumou foi a primeira a estudar fora do país após concluir o ensino médio. Ela teve o apoio do pai, que também estudara no exterior. Assim, contrariando a sua comunidade, ela conseguiu realizar o sonho de estudar no país vizinho, Senegal. A experiência no Senegal lhe mostrou o quanto as mulheres da Mauritânia são destituídas de poder, e que que é possível as mulheres terem uma voz forte. Ela decidiu que se tornaria uma agente de mudança em seu próprio país.
Este ano, Oumou participou da oficina Women, Business and the Law (Mulheres, Empresas e o Direito) em Nouakchott, na Mauritânia. A oficina reuniu cerca de 30 representantes de organizações da sociedade civil (OSCs) que trabalham em prol do empoderamento das mulheres no país, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o impacto econômico das leis diferenciadas por gênero e capacitar os participantes no uso de dados e evidências para defender reformas em favor da igualdade de gênero. “Esse tipo de capacitação e acesso à informação é fundamental; nos ajuda a entender que, como mulheres, muitas vezes não conhecemos os nossos próprios direitos. Eu tive a oportunidade de aprender sobre os direitos das mulheres em outros países e sobre os avanços que vêm ocorrendo. Também vi como outros países fizeram para dar início ao processo que estamos tentando implementar no meu país e aprendi com os exemplos”, relatou Oumou, que pouco tempo depois formou o primeiro time de futebol feminino da Mauritânia.
O Women, Business and the Law trabalha com as OSCs para fomentar sua capacidade de defender com mais eficácia reformas em prol da igualdade de gênero baseadas em evidências e orientadas por dados. No último ano, esses esforços foram intensificados com uma série de oficinas realizadas em vários países da África subsaariana, como Cabo Verde, Costa do Marfim, Gana, Guiné-Bissau, Mauritânia, Moçambique, Senegal e Serra Leoa. Há planos de continuar esse trabalho e levá-lo a outros países da região. Por meio de oficinas e da troca de conhecimentos, os países podem fortalecer sua capacidade de promover reformas jurídicas e a adoção de leis, políticas públicas e iniciativas de promoção da igualdade de gênero, com a finalidade de empoderar meninas e mulheres.
A troca de conhecimentos entre países é fundamental para promover mudanças
No Senegal, a oficina organizada em colaboração com a Associação Senegalesa de Mulheres Juristas incluiu uma sessão com uma representante da associação-irmã da Costa do Marfim, que relatou o processo de adoção das recentes reformas do Código da Família na Costa do Marfim, muitas das quais os senegaleses também querem implementar. As participantes puderam assim aprender com a experiência prática de sua colega. “A oficina foi uma oportunidade de forjar novos relacionamentos e aprender com a Costa do Marfim e com as experiências alheias, que podem ajudar no nosso trabalho de promoção da igualdade de gênero”, afirmou Fatou Bocoum, que representou a Rede Nacional Senegalesa de Mulheres Rurais na oficina.
Mulheres de todas as regiões desses países se inscrevem nas oficinas do Women, Business and the Law para aprender sobre as leis e como melhor defender os direitos das mulheres em seus respectivos países. “Nossas mulheres e meninas desconhecem a maioria de seus direitos. Não podemos mudar as leis sem antes aprender o que os nossos vizinhos e outros países fizeram que resultaram em efeitos positivos para as mulheres. Não é sempre que temos acesso a esse tipo de informação. Aprender sobre leis que promovem o empoderamento econômico das mulheres e políticas mais inclusivas para o sexo feminino é fundamental para o nosso trabalho de advocacy”, afirmou Helena Neves, presidente da Associação de Mulheres Juristas de Guiné-Bissau, a principal parceira do Women, Business and the Law na oficina realizada em Guiné-Bissau. “Ainda temos grandes desafios a enfrentar em nossas iniciativas, mas a experiência e o aprendizado da oficina incentivam as mulheres a seguir em frente com coragem.”
De fato, o trabalho teve impactos práticos
O processo de empoderamento de Oumou através do intercâmbio de experiências está agora ajudando outras mulheres. Depois de formar a primeira equipe feminina de futebol da Mauritânia, ela continua trabalhando no empoderamento das mulheres e também administra a Associação Multicultural por um Futuro Melhor, uma organização que reúne suas experiências no exterior e a partir do intercâmbio de conhecimentos (como a oficina Women, Business and the Law). “Com a oficina, conseguimos melhorar a colaboração entre as organizações e formar uma rede para compartilhar informações e promover o empreendedorismo das mulheres”. Oumou é agora um exemplo para as suas conterrâneas.
As oficinas demonstram a importância do poder de congregação do Grupo Banco Mundial e o seu papel na promoção de oportunidades de aprendizado entre pares, criando ou fortalecendo redes nacionais de OSCs e ampliando sua capacidade de usar dados e evidências em seus respectivos esforços para impulsionar reformas em prol da igualdade de gênero.