Na pequena Rio do Fogo, litoral do Rio Grande do Norte, um grupo de 16 mulheres está mudando a economia da cidade. Com o apoio do Projeto Rio Grande do Norte Sustentável, uma parceria entre o Banco Mundial e o Governo do Estado, elas formaram a Associação de Maricultoras do Rio do Fogo (Amar), para organizar o cultivo de algas e a fabricação de produtos derivados. A iniciativa tem como objetivo ampliar a participação no mercado e, consequentemente, uma maior independência financeira.
“Muitas pessoas nos criticam por trabalharmos”, conta Nízia Silva, 50 anos, atual presidente da Amar. “Mas tenho muito orgulho de já ter comprado com meu próprio dinheiro eletrodomésticos e utensílios para a minha casa e também roupas para os meus filhos”.
Ricas em colágeno e em minerais como cálcio, ferro e iodo, as algas são boas fontes de proteína, carboidrato e vitamina A. Quando desidratadas, podem ser consumidas em saladas de frutas e verduras. Hoje, as maricultoras produzem regularmente farinha de alga. Mas a partir dela é possível produzir muitos outros produtos, tais como: sabonete líquido, sopa, mousse, iogurte, produtos de beleza e até cocadas, ou cocalgas, como apelidaram as maricultoras.
Prestes a concluírem a construção da sede da Amar, dando fim a uma espera de 13 anos, elas só têm a comemorar. O investimento de R$ 329 mil destinado à sede e ao centro de produção permitirá ainda a compra de equipamentos para ampliar e diversificar a produção, entre eles o tão sonhado moinho.
“Hoje, alugamos um moinho, o que diminui nossa margem de lucro”, conta Luzia Cruz do Nascimento, 42 anos. “Com a sede pronta, vamos poder produzir em maior quantidade e de maneira mais competitiva para atender a demanda do mercado”.
Atualmente, o lucro obtido pelas maricultoras ainda é baixo e muito irregular. “Muitas vezes não chegam a ganhar o equivalente a um salário mínimo para dividir entre elas”, conta Nisia Maria de Souza, gestora social do Projeto Governo Cidadão, que abarca o RN Sustentável. “Em algumas ocasiões, elas conseguem atender a demandas pontuais de outros estados, como São Paulo e Minas Gerais, e ganham um pouco mais”.
A construção da sede representa de fato um salto para a economia solidária. “Antes do projeto, trabalhávamos no cultivo de algas para outras pessoas. Sempre íamos para o mar de madrugada”, lembra Luzia. “Vendíamos o quilo da alga por R$ 0,50. Hoje, já conseguimos vender por R$ 4,20 o quilo”.
O aumento de 7,4% do lucro ainda é desproporcional para o esforço que o trabalho exige. Para cultivar as algas, as maricultoras levantam às 5h todos os dias, entram no mar para colher as mudas e arrumá-las em canos flutuantes que são ancorados em um pedaço de concreto dentro do mar.
Dois meses depois, elas voltam ao mar para realizarem a coleta das algas. Em geral, dois quilos de mudas transformam-se em 20 quilos de alga. Após colhê-las, as maricultoras põem as algas em sacos que pesam em tono de 60 quilos. Muitas vezes, carregam dois deles, ou 120 quilos, do local da coleta até o centro de produção. “Os homens desistiram do projeto por causa disso”, lembra rindo Nízia. “Diziam que era trabalho pesado e que não iríamos conseguir tirar as algas do mar. Estamos aqui até hoje, fazendo isso”.