O novo e o antigo se encontram no momento em que os produtores de café Carlos Alberto e Luís Carlos “Japão” Bassetto olham para a câmera. Nas mãos, os primos trazem a peneira usada há muitos anos para separar os frutos das impurezas. Atrás deles, está uma novíssima colheitadeira, capaz de fazer o trabalho de 80 pessoas/dia.
A foto foi tirada em Pratânia, oeste de São Paulo, onde a maior parte da população (5 mil pessoas) tira o sustento da agricultura.
Lá, a tecnologia ajuda a família Bassetto – e outros 113 produtores associados – a ganhar espaço no cobiçado mercado dos cafés fair trade ("comércio justo"). A cooperativa onde todos trabalham, fundada em 2004, produz em torno de 7 mil sacas ao ano. Os melhores grãos já podem ser encontrados nos Estados Unidos, Suíça e Nova Zelândia.
“Com a colheitadeira, podemos vender até 70% da nossa produção (ante os atuais 50%) para as empresas do fair trade”, diz Japão. “Elas exigem uma série de compromissos sociais e ambientais, mas também garantem preço justo ao produtor.”
A máquina foi comprada com a ajuda de um projeto do Banco Mundial que permite a pequenos produtores ganhar acesso a mercados. Hoje, a iniciativa atende a 8 mil famílias. Mais 14 mil serão beneficiadas até o fim de 2015.
Colheitas melhores
Desde o início, em 2010, o projeto apoiou não só produtores de café, mas também de mel, leite, grãos, frutas e hortaliças. Eles agora conseguem aprender técnicas agrícolas sustentáveis, ajustar seus produtos às normas sanitárias – de modo a conseguir vender para as prefeituras locais, por exemplo – e comprar equipamentos.
“A colheita do café exige muita mão de obra, algo em falta na região ultimamente”, explica Claudio Vivan, diretor técnico do Escritório de Desenvolvimento Rural de Botucatu, que atende aos pequenos agricultores de Pratânia.
“Além disso, o rendimento é muito menor quando se colhe manualmente. O café tem um ponto ótimo até o qual ele pode ficar na planta com qualidade. Com a máquina, torna-se possível produzir mais café no ponto ideal.”
Crescimento desigual
O Brasil está entre os países que mais produzem e consomem café. E, particularmente em São Paulo, o grão deu gás ao desenvolvimento local entre os anos 1940 e 1970. Com o crescimento econômico desse período, estradas foram construídas e cidades cresceram.
Depois disso, porém, os produtores enfrentaram pragas, condições climáticas desfavoráveis e a queda global nos preços do café. Desanimados, muitos deles trocaram de cultura ou deixaram suas terras.