Segundo uma lenda amazônica, o pirarucu – um dos maiores peixes de rio que existem – surgiu de um guerreiro indígena malvado. A espécie, com até 3m de comprimento e 200kg na fase adulta, tem corpo comprido e chato, rabo arredondado e uma boca grande – que assustava os antigos pescadores.
Nos dias de hoje, porém, atribui-se um novo superpoder à espécie: o de melhorar as vidas de pelo menos 1,500 famílias de origem indígena. Elas estão à frente de um trabalho de pesca sustentável na região do Alto Solimões.
Lá, enquanto as atividades de pesca ilegal estão em queda, a população de pirarucus (entre outras espécies) retoma o crescimento, graças a esse esforço. “Os lagos daqui estavam quase sem nenhum peixe”, lembra o pescador Ataíde Gonçalves.
A iniciativa faz parte de um projeto maior, que busca levar desenvolvimento a uma das regiões mais isoladas e pobres da Amazônia. O projeto é gerenciado pelo Governo do Amazonas e pelo Banco Mundial.
De olho na respiração
Os pirarucus da região vivem nos lagos conectados ao Rio Solimões e localizados (em sua maior parte) dentro de terras indígenas. Sabendo disso, pescadores e técnicos do projeto fizeram a seguinte classificação:
- Nos lagos de conservação, está proibido pescar, pois eles são usados para a reprodução dos peixes.
- Nos lagos de manejo, as famílias podem trabalhar de março a novembro e precisam obedecer a um limite de pesca.
- Nos lagos de manutenção, os pescadores podem pegar peixe o ano inteiro, inclusive para consumo próprio.
As comunidades recebem aulas de educação ambiental e, uma vez capacitadas, podem começar a monitorar os lagos do Alto Solimões. Elas se revezam e, via rádio, denunciam qualquer atividade de pesca ilegal.
Além disso, todo mês de agosto, as comunidades fazem a contagem do pirarucu. O peixe vai à superfície a cada 20 minutos para respirar – e, quando faz isso, solta um som muito particular. Os pescadores mais experientes analisam esses sinais e, com eles, calculam a população.
Os números são passados ao Ibama, que, por sua vez, estabelece o limite de pesca para cada temporada.