Imagine uma tonelada de soja saindo dos campos de Mato Grosso do Sul em direção aos portos de Santos ou Paranaguá, a pelo menos 1.200km de distância. Quando o produto – um dos mais importantes da pauta de exportações brasileiras – chegar ao destino, terá perdido uma boa parte de seu valor.
“Levar a soja por terra demora e sai caro, cerca de US$ 120 por tonelada. Agora, quando se exporta por via marítima, o custo é três vezes menor”, explica José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), que atualmente representa 250 empresas. “Hoje, os produtores brasileiros conseguem administrar esse custo, mas é difícil dizer quanto tempo mais eles aguentam.”
O exemplo de Castro resume alguns dos maiores problemas encontrados pelos exportadores brasileiros. Essas questões são discutidas no novo estudo Exportações brasileiras: descendo o abismo da competitividade (i), que analisa detalhadamente estatísticas dos últimos 15 anos. O trabalho foi feito pelos economistas brasileiros Otaviano Canuto, José Guilherme Reis e Matheus Cavallari, do Banco Mundial.
“A principal mensagem é que, embora o Brasil tenha exportado quase o dobro da média global entre 2000 e 2010, as exportações do país ainda precisam de competitividade”, explica Canuto, vice-presidente da Rede de Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico (PREM, na sigla em inglês).
Perdendo espaço
“O Brasil se beneficiou da alta procura global por commodities, como minerais (que responderam pela maior parte das exportações, 25,2%) e alimentos. Mas, se não fosse por isso, o país não teria ido tão bem”, acrescenta.
Comparados com os números da China, Rússia, Índia e África do Sul, os do Brasil chegam a parecer tímidos. Em média, as exportações desses países emergentes cresceram 439% no mesmo período. “Para ganhar competitividade, o Brasil precisa investir mais em educação – o que melhoraria a nossa força de trabalho – infraestrutura e logística”, diz Matheus Cavallari.
Além de melhorar portos, aeroportos e estradas, a indústria brasileira precisa de investimentos em maquinário e software. E, ainda, de ações (como a reforma tributária) capazes de diminuir burocracia e custos. No Brasil, os cofres públicos recebem um valor equivalente a 35% do que o país produz (PIB).