A COVID-19 demonstrou os elevados custos humanos, sociais e econômicos quando os sistemas de saúde são vulneráveis a choques, e a repercussão imediata que essas vulnerabilidades trazem sobre suas capacidades de resposta. Em 2023, especialmente considerando todos os desafios vividos durante e pós-pandemia, ficou ainda mais evidenciada a importância de garantir investimentos para que sistemas de saúde, como o Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) se tornem mais resilientes frente aos riscos estruturais e emergenciais de saúde, incluindo a ameaça contínua da mudança climática.
Buscando consolidar alguns dos principais dados que caracterizam os importantes desafios impostos ao setor saúde brasileiro, o documento de consulta Panorama da Saúde: um olhar sobre a saúde brasileira, que tem como base a publicação Panorama da Saúde: América Latina e Caribe 2023, preparada pelo Banco Mundial e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incorpora também importantes contribuições feitas por organizações científicas de referência, estando organizado em três grandes grupos temáticos:
- Desafios estruturais, como a gestão de pessoas, a qualidade do cuidado, as tecnologias e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde, o financiamento da saúde e a transformação digital.
- Desafios (re)emergentes, como os cuidados de saúde interrompidos e a demanda reprimida, os desafios relacionados à (má) alimentação e nutrição e segurança alimentar, a saúde reprodutiva, a atenção materno-infantil, a vacinação, a saúde mental (incluindo retrocessos graves observados nessas duas últimas áreas) e o enorme peso das doenças crônicas em um país que está envelhecendo muito rapidamente, as doenças transmissíveis que têm crescido importância em grande parte devido às mudanças climáticas, e as causas externas/violência.
- Resiliência do setor saúde, olhando para a resposta à COVID-19, a prontidão dos sistemas de saúde, as emergências de saúde pública futuras e a necessidade de se adaptar ao envelhecimento populacional, tendo como base as políticas de prevenção e de vigilância em saúde, a Atenção Primária, a resiliência e a adaptação climática.
O Panorama destaca o quão fundamental é o aumento de ações que promovam a resiliência do SUS e que possibilitem o enfrentamento desses desafios. Entre as principais lições destacadas para concretização dos objetivos estratégicos do SUS estão a necessidade de promover: (i) respostas de prontidão para emergências e eventos críticos inesperados; (ii) recrutamento e valorização da força de trabalho e fortalecimento da Atenção Primária em Saúde; (iii) melhoria dos mecanismos de governança, aumento da confiança nos governos, nas coleta de dados e nos sistemas de informação em saúde; (iv) análise crítica da provisão de serviços de saúde da população e abordagem das iniquidades nos sistemas de saúde; e (v) cooperação internacional e resiliência da cadeia de suprimentos.