DESTAQUES DO ARTIGO
- Na última edição da Africa’s Pulse, a análise económica para a região, sugere que os governos deem prioridade às reformas políticas e aos investimentos para promover uma forte recuperação económica.
- A análise prevê que a atividade económica terá um declínio de 3,3 por cento em 2020, confirmando assim a primeira recessão da região em 25 anos.
- As recomendações incluem políticas de realocação setorial para se centrarem em setores económicos modernos e políticas de integração espacial para apoiar a criação mais eficiente de empregos.
WASHINGTON, 8 de outubro de 2020—Enquanto os países da África Subsaariana continuam a enfrentar incertezas económicas derivadas da pandemia da COVID-19, a última análise macroeconómica da região indica que os governos podem olhar para as reformas políticas como um motor da recuperação económica.
A Africa’s Pulse: Traçar o Caminho para a Recuperação prevê que a atividade económica tenha um declínio de 3,3 por cento em 2020, o que será a primeira recessão da região em 25 anos. A COVID-19 também ameaça empurrar até 40 milhões de pessoas para a pobreza extrema em África, corroendo muitos dos ganhos de desenvolvimento obtidos na última década. A análise recomenda que os governos aproveitem a oportunidade dentro da crise para desenvolverem políticas e dar prioridade a investimentos que aumentem a resiliência, reforcem a produtividade e gerem empregos.
"A recuperação estável na África Subsaariana após a pandemia da COVID-19 exige políticas que promovam o crescimento sustentado e aumentem a resistência, mas o crescimento só por si não é suficiente", disse Albert Zeufack, Economista-Chefe do Banco Mundial para a regiões africanas. "Os países africanos precisam de definir agora as prioridades políticas e investimentos para criar empregos melhores, em maior numero e inclusivos: é essa a chave para um crescimento sustentado, inclusivo e resiliente."
A Africa’s Pulse observa que embora as consequências da pandemia da COVID-19 para a saúde tenham sido menos devastadoras do que o esperado, a combinação dos confinamentos domésticos e as repercussões relacionadas da recessão global tiveram um impacto significativo na atividade económica. Na Nigéria e na África do Sul, as duas maiores economias da região, as quedas do crescimento foram especialmente pronunciadas, com quedas acentuadas de 6,1 por cento e 17,1 por cento em relação ao ano anterior, respetivamente.
No contexto dos significativos declínios económicos, a análise recomenda que os governos olhem para as políticas de que os países africanos precisam para avançar em direção ao crescimento impulsionado pela produtividade, e criar empregos melhores, em maior número e inclusivos. Embora os autores da Africa’s Pulse reconheçam que o caminho para a recuperação será longo e árduo, em especial quando o futuro económico da região permanece incerto, e quando surge a preocupação de uma segunda vaga de infeções da COVID-19, recomendam que os governos tenham como objetivo de priorizar e apoiar políticas e investimentos destinados a conectar as pessoas às oportunidades de trabalho, o que pode ajudar a acabar com a pobreza extrema, particularmente no período pós-COVID-19.
A Africa’s Pulse nota que a pandemia também tem destacado a importância da economia digital, dando capacidades aos governos, empresas e à sociedade, numa época de confinamentos e distanciamento social, reconhecendo também as intervenções dos governos para reduzir o custo de dispositivos e serviços, evitar desligamentos por falta de pagamento, e aumentar a largura de banda. Estas medidas foram complementadas por ações destinadas a facilitar a expansão da rede e adotar novas tecnologias, como o Google Loon no Quénia e Moçambique, e o aumento da eficiência da internet no Gana.
Salientando que a adoção das tecnologias digitais por parte dos governos, das famílias e das empresas na África Subsaariana ainda está muito atrasada em relação a outras regiões do mundo, a Africa’s Pulse recomenda que sejam feitos melhoramentos em áreas como infraestrutura digital e modelos de negócios, de competências e literacia digitais, assim como uma mais eficaz regulamentação para expandir a infraestrutura digital e a conectividade acessível, fiável e universal.
Além de recomendar a reconstituição do espaço fiscal para ajudar os governos a financiar programas que irão estimular a recuperação económica, a Africa’s Pulse também destaca as seguintes áreas que devem ser consideradas nas políticas:
Políticas setoriais de reafectação, a fim de promover a passagem da exportação de matérias-primas para uma maior adição de valor e cadeias de valor no interior de África. Tendo em conta a demora da recuperação do comércio global, os decisores políticos da região precisam de promover o desenvolvimento de cadeias de valor regionais, enquanto vão construindo as bases e as capacidades necessárias para um envolvimento continental mais abrangente. A Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZLCCA ) tem uma importante função a desempenhar na redução dos custos de produção associados às tarifas, barreiras não tarifárias e problemas de facilitação do comércio. O ZLCCA também pode ajudar a organizar a produção em toda a região, a expandir o comércio intrarregional e construir resiliência ao longo das cadeias de abastecimento.
Políticas de integração espacial, para promover a produtividade agrícola e reafectar recursos a locais mais eficientes de criação de emprego através de reforço da conectividade rural-urbana e interior-costeira e investimentos nas cidades. As cidades que funcionam bem são o berço da inovação e de uma maior produtividade, de setores industriais e de serviços comercializáveis. O reforço da produtividade agrícola e a melhoria das condições de vida nas áreas rurais, incluindo a segurança alimentar, desempenharão um papel crucial. Aumentar os gastos com infraestruturas para investir em todas as zonas urbanas e rurais, em particular, aumentar o acesso a serviços de infraestrutura básica.
Perspetiva Económica
A Africa’s Pulse prevê que a região recuperará em 2021, no entanto, o crescimento variará de país para país. Embora se espere que a África do Sul tenha uma recuperação fraca, espera-se que o crescimento global na região da África Oriental e Austral atinja uma média de [2,7] porcento. Vários países, como a Etiópia, já começaram a aproveitar a oportunidade para pôr em prática reformas políticas.
"Vimos que Angola, a Etiópia e a África do Sul aceleraram as reformas durante este período, para garantir que estarão prontas para o crescimento quando a ameaça da pandemia tiver diminuído", disse Hafez Ghanem, Vice-Presidente do Banco Mundial para a África Oriental e Austral. “Não é possível escapar ao impacto económico que a COVID-19 tem tido na sub-região, mas acelerar as reformas é uma forma de estar na melhor posição possível após a pandemia".
Embora a Africa’s Pulse também indique que a recuperação económica da Nigéria também será fraca, espera-se que a região da África Ocidental e Central tenha um crescimento médio de [1,4] por cento.
"Traçar o caminho para uma recuperação rápida também vai exigir investimentos maciços em todos os países da região, para os quais os governos se devem preparar", disse Ousmane Diagana, Vice-Presidente do Banco Mundial para a África Ocidental e Central. "A jornada de recuperação será difícil, mas sem o avanço das reformas estruturais, o crescimento robusto pós-pandemia será ainda mais desafiador". ”