Discursos e Transcrições

Implementando o desenvolvimento: Aproveitar o conhecimento para construir a prosperidade e pôr fim à pobreza

8 de outubro de 2012


Jim Yong Kim, Presidente do Grupo Banco Mundial Discurso de Abertura no Fórum Conhecimento Mundial Seoul, Coréia, República da

Conforme preparado para pronunciamento

여러분 안녕하십니까!

고향에 돌아오니 기쁩니다. 장대환 박사님께서 이렇게 빛나는 자리를 베프시고

분에 넘치는 소개를 주시니, 마냥 겸손해지고 힘이 납니다. 참으로 고맙습니다. 강남스타일이 아니라도 즐겨주시기 바랍니다.

[Olá a todos. É um prazer estar de volta em casa. Sinto-me energético e humilde graças à maravilhosa apresentação do Professor Chang Dae-Whan e ao fato de nos proporcionar esta excelente oportunidade hoje. Fico imensamente agradecido. Embora não no Estilo Gangnam, divirtam-se.]

Muito obrigado Excelências, distintos convidados, colegas e amigos. Permitam-me começar fazendo um rápido comentário. Está presente na primeira fileira a minha mãe de 79 anos. Está aqui hoje para falar sobre o trabalho de toda a sua vida: estudos sobre Toegye, também conhecido como Yi Hwang, um dos grandes filósofos da história da Coreia. Desejo agradecer a ela por me ter transmitido o desejo e francamente a necessidade de continuar a expandir os limites do conhecimento. Continuamos a expandir os limites do conhecimento porque sabemos que podemos tornar o mundo um lugar melhor.

Permitam-me agradecer o Dr. Chang Dae-Whan por sua generosa apresentação e pelo convite para eu dirigir a palavra a esta notável plateia. E permitam-me agradecer a todos os senhores e senhoras por contribuírem para esses três dias de debate e aprendizagem. É especialmente encorajador ver uma forte presença do setor privado da Coreia, cujo pragmatismo e adaptabilidade tanto têm feito para promover o progresso deste país.

É inspirador dirigir a palavra a este grupo de líderes em qualquer parte do mundo. Mas acima de tudo aqui em Seul: a cidade em que eu nasci; a capital de um país que em 50 anos saiu da pobreza e conflito para tornar-se uma das sociedades mais prósperas e tecnologicamente mais avançadas do mundo. A Coreia nos ensina que o desenvolvimento é possível sob a adversidade mais extrema. Esta lição é mais relevante hoje do que nunca.

O tema do fórum deste ano nos estimula a reconhecer a magnitude dos atuais desafios globais e, acima de tudo, propor soluções corajosas. E nos faz recordar que uma ação audaciosa deve ser orientada pelo conhecimento.

Mas de que tipo de conhecimento nós precisamos?

Ao nos reunirmos nesta capital, centro de um poder econômico e tecnológico jovem, estamos conscientes de que o mundo está mudando. Nosso modo de pensar sobre o conhecimento no desenvolvimento também precisa mudar.

Há 60 anos, quando a Coreia era um país pobre e o Banco Mundial acabava de ser criado, pensava-se que o poder e a perícia no desenvolvimento global poderiam fluir em apenas uma direção: do norte global para o sul.

Esse modelo desapareceu para sempre. Este fórum e esta grande cidade em que se realiza mostram que vivemos em um mundo multipolar. O poder e o conhecimento surgem de novas fontes e seguem novos caminhos. As economias emergentes representam agora dois terços do crescimento econômico global.

O cenário global está mudando de outras formas. Movimentos como a Primavera Árabe, a campanha dos “Indignados”, “Ocupem Wall Street” e os protestos sociais em muitos países refletem a demanda de participação e uma parcela justa dos benefícios da prosperidade por parte das pessoas. Esses movimentos lembram-nos de que as desigualdades radicais em matéria de riqueza e poder não são sustentáveis. Em um mundo de cidadãos informados e com poder de decisão, as estratégias econômicas não podem estar divorciadas das demandas de justiça social.

Ao enfrentarem esses desafios, os governos e seus parceiros não podem escapar com retórica. Precisamos produzir resultados.

As abordagens atuais sobre o desenvolvimento nos levarão somente a uma parte do caminho. Na virada do milênio, o Dr. Chang e outros presentes neste auditório, ao colocarem deliberadamente o conhecimento no centro, lideraram um processo que transformou a economia da Coreia A meu ver, precisamos hoje de uma mudança evolucionária semelhante na forma como os países, comunidades e seus parceiros utilizam o conhecimento para o desenvolvimento.

No centro de nosso modelo de desenvolvimento devemos lançar os fundamentos de um novo tipo de conhecimento, o que alguns chamam de “ciência da prestação de serviços” que os países usarão para atender às demandas de seus habitantes.

Meu discurso hoje tem três objetivos: primeiro, mostrar por que precisamos de uma ciência da prestação de serviços no desenvolvimento; segundo, discutir algumas características do conhecimento necessário à prestação de serviços que influencie a configuração deste campo; e terceiro, descrever as medidas concretas que o Grupo Banco Mundial deverá tomar para fortalecer nosso trabalho de prestação com os países e criar os fundamentos para a futura ciência da prestação de serviços.

Ao falar com líderes políticos e parceiros nos países no mundo inteiro, ouço uma mensagem recorrente.

A maioria dos países sabe quais são as direções de política que devem adotar para reduzir a pobreza e construir a prosperidade. Muitos países têm políticas e programas sólidos e coerentes para o desenvolvimento – no papel. Mas não estão conseguindo os resultados esperados. De país em país, de setor em setor o maior desafio é a prestação de serviços.

“Prestação de serviços” é uma expressão elegante para levar os bens e serviços às pessoas de uma forma que atenda às suas expectativas. As empresas privadas de alto desempenho se sobressaem na prestação de serviços. A prestação de serviços também é crucial para o setor público como parte do contrato social do governo com os cidadãos. Hoje, mais do que nunca, compreendemos o quanto a prestação de serviços é crítica para o desenvolvimento. As prioridades da prestação de serviços no desenvolvimento incluem infraestrutura material como estradas, redes elétricas e sistemas de abastecimento de água. Incluem também serviços como educação, saúde e proteção social. Em todas essas áreas a prestação fica atrás em muitos dos países e comunidades onde as necessidades são maiores.

Para melhorar os resultados do desenvolvimento precisamos enfrentar diretamente os desafios da prestação de serviços. Esta é a próxima fronteira do Grupo Banco Mundial. Simplesmente, é isso que os povos pedem.

Podemos assinalar exemplos individuais de sucesso na prestação de serviços em países com todos os níveis de renda. Mas precisamos passar de exemplos isolados para um progressos global amplo, em todos os países e em todos os setores do desenvolvimento.

Para isso devemos trabalhar em conjunto a fim de lançarmos os fundamentos de um novo campo que coletará e distribuirá o conhecimento prático que os países poderão usar para levar a prestação de serviços a seus contextos específicos.

Há uma necessidade urgente de uma ciência da prestação de serviços para o desenvolvimento, mas ela ainda não existe. Precisamos criá-la em conjunto. Os países assumirão a liderança. O setor privado, sociedade civil, comunidades e parceiros no desenvolvimento global contribuirão. Conclamo todos os senhores aqui presentes, líderes de ideias e inovadores de muitas áreas de atuação e de muitos países, a aproveitarem este desafio e contribuírem com suas ideias e energia.

Ao aprofundarmos a discussão, desejo ser claro a respeito da divisão de trabalho entre os países e o Grupo Banco Mundial. São os países que fornecem os programas. O que os profissionais do Banco Mundial oferecem é o apoio baseado na evidência, assessorando os formuladores de políticas de cada país, os executores de programas e os parceiros do setor privado.

Neste contexto, “prestação de serviços” e “fracasso na prestação de serviços” podem parecer conceitos abstratos. Pensemos um instante no que essas ideias significam em termos humanos:

  • Devido ao fracasso na prestação de serviços, 1,3 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento carecem de acesso à eletricidade e permanecem excluídos de praticamente todos os benefícios da vida moderna.
  • Devido ao fracasso na prestação de serviços, mais de 280.000 mulheres morrem anualmente no parto devido a complicações obstétricas que a medicina moderna pode facilmente resolver.
  • Devido ao sucesso na prestação de serviços, a percentagem de crianças da Tanzânia que concluem o ensino fundamental passou de 57% em 2000 para 90% em 2010, melhorando a vida de milhões de crianças e proporcionando-lhes ferramentas para conseguir um futuro mais próspero.

A boa notícia é que recentes avanços em muitos campos nos podem ajudar a melhorar a prestação de serviços. Perspectivas relevantes surgem em disciplinas tão diversas como engenharia de sistemas, medicina e campos de negócios como estratégia, operações e gestão. Todas essas disciplinas podem alimentar a evidência em um campo emergente de prestação de serviços que ajudará os países a melhorarem os resultados do desenvolvimento.

Não nos esqueçamos de que um trabalho excelente de prestação de serviços está ocorrendo em muitos ambientes na maior parte do tempo. Empresas privadas em todas as regiões do globo resolvem todos os dias os desafios da prestação de serviços para atender às necessidades de seus clientes. Os serviços públicos que simplesmente consideramos como algo normal em um centro urbano moderno – tais como redes de eletricidade, água e transportes – são também uma demonstração da prestação de serviços bem-sucedida.

Não são raros os sistemas de prestação de serviços dotados de implementadores eficazes e de excelente funcionamento. No entanto, a prestação de serviços tem uma qualidade paradoxal: quanto melhor, menos é notada. Isso significa que o desempenho excelente da prestação de serviços muitas vezes não é reconhecido, mesmo por aqueles que se beneficiam dela diretamente. Subestimamos a complexidade dos desafios e a importância das realizações dos implementadores. Como resultado, não envidamos esforços adequados para analisar o sucesso da prestação de serviços, captar o conhecimento que a tornou possível e transmitir as lições desse sucesso em formas que possam ser usadas por outros.

Todos os presentes conhecem as pessoas na respectiva empresa ou organização que são os impulsores, os solucionadores de problemas, as pessoas a quem a empresa chama para resolver os casos mais complicados. De fato, os senhores e senhoras aqui presentes são essas pessoas. Utilizando minha formação médica, gosto de chamar os senhores de “mestres da clínica”. Mas podemos simplesmente referir-nos aos senhores como implementadores habilidosos. Eles existem em toda organização bem-sucedida.

O fundamento do êxito da prestação de serviços é o conhecimento tácito que está presente na cabeça desses implementadores. Nos hábitos da ação eficaz que para eles se tornou uma segunda natureza – o que podemos chamar de sua “memória muscular”, à semelhança de movimentos precisos de um músico que executa uma peça após prática incessante.

Os implementadores do desenvolvimento que trabalham nas linhas de frente adquirem essa “memória muscular” no decorrer de sua carreira. Testam soluções, observam os resultados, fazem correções e tornam a testar. Ao passarem por muitos desses círculos de aprendizagem, sua experiência acumulada torna-se um know-how prático. Na maioria dos casos em que os países e parceiros conseguem bons resultados do desenvolvimento, na realidade é esse implementador tácito que está impulsionando o sucesso.

O desafio está em passar da excelência em desempenho individual para melhorias amplas na qualidade da prestação de serviços em todos os setores.

Para isso precisamos passar do know-how experimental de profissionais individuais para o nível do conhecimento analítico – o nível da ciência. Precisamos analisar e comparar o desempenho de um grande número de implementadores. Devemos vincular as experiências dos implementadores aos resultados de dados contextuais sobre políticas, condições sociais, capacidades dos países e outros fatores que afetam os resultados da prestação de serviços. Precisamos criar mecanismos eficazes para compartilhar o conhecimento da prestação, de forma que os implementadores possam aprender continuamente uns com os outros. E precisamos estabelecer “círculos virtuosos” de aprendizagem, nos quais os profissionais continuamente testem inovações, captem resultados e utilizem esses resultados para projetar novos experimentos. Esses são os passos para uma ciência da prestação de serviços.

Até tomarmos essas medidas a ciência da prestação de serviços enfrenta um fracasso, ou seja, a maior parte da inovação do implementador nunca é avaliada devidamente, analisada e disponibilizada para a aprendizagem compartilhada. Estamos perdendo oportunidades de divulgar o sucesso. Chegou a hora de pôr fim a esse desperdício do know-how do desenvolvimento e assegurar que os pobres em todas as partes tenham acesso a toda inovação que possa ajudá-los a melhorar suas vidas.

Quero ressaltar quatro pontos da prestação de serviços que se revestem de importância especial para o modo como construímos o campo e implementamos o seu potencial. 

Primeiro, a prestação de serviços gira em torno da solução de problemas. Trata-se de um tipo especial de conhecimento que procura os meios mais eficazes para alcançar um fim definido.

Uma consequência importante é o fato de a prestação de serviços ser altamente sensível ao contexto. As soluções são determinadas pelas necessidades e oportunidades de um tempo e lugar específicos.

É por isso que o Grupo Banco Mundial trabalhará com os países e comunidades implementadores na construção de uma base de conhecimentos da prestação de serviços de baixo para cima. E aí será crucial a presença contínua do Banco Mundial no campo em mais de 120 países. O Banco Mundial apoiará os países no lançamento de um núcleo local de conhecimento da prestação de serviços focado em problemas locais; e conectaremos essas plataformas dos países aos recursos regionais e globais. Os núcleos locais de conhecimento poderão assumir formas diferentes e operar de maneira diversa. O seu propósito é ajudar os países a aprenderem sistematicamente.

A dependência de contexto da prestação de serviços também significa que os programas com frequência apresentam resultados desapontadores devido a fatores contextuais fora do controle direto dos implementadores. A falta de apoio político de alto nível para o programa; financiamento inadequado; e frágeis capacidades administrativas do país são exemplos. Uma das tarefas da ciência da prestação de serviços será identificar estratégias que, em certos casos, capacitaram os implementadores a atenuar parcialmente essas restrições externas ou pelo menos limitar seu impacto sobre o desempenho dos programas.   

O enfoque na solução de problemas locais não significa que o conhecimento específico de um contexto não possa ser agregado para alimentar o conjunto global de experiências e evidências. Há um vínculo virtuoso entre o local e o global por meio do qual o conhecimento relevante a um contexto possa ser adaptado em outros contextos. O segredo é avaliar rigorosamente, de forma que o conhecimento local transforme-se em evidência disponível a outros. O Grupo Banco Mundial pode desempenhar um papel crucial como facilitador de conhecimentos neste intercâmbio: primeiro, apoiando a inovação local na prestação de serviços e, a seguir, assegurando que os resultados locais sejam avaliados e agregados como evidência acessível globalmente. Um exemplo é o nosso trabalho de apoiar a coleta e divulgação de evidências sobre os programas de Transferência Monetária Condicionada. Desde que as Transferências Monetárias foram lançadas pela primeira vez pelo Brasil e México no fim da década de 1990, o Banco Mundial tem facilitado mais de 200 intercâmbios de conhecimentos Sul-Sul que têm ajudado os países a aprender uns com os outros a melhor forma de implementar esses programas.

Segundo, a prestação de serviços diz respeito a sistemas complexos. A prestação de serviços no desenvolvimento enfoca metas sociais. As sociedades compõem-se de sistemas interprenetrantes. Para alcançar qualquer objetivo social precisamos utilizar vários sistemas naturais e artificiais que se influenciem mutuamente.

Muitos países de baixa renda enfrentam restrições de capacidade e seus sistemas são frágeis. No entanto, construir e gerenciar sistemas complexos é o ponto em que o Banco Mundial se sobressai. Há mais de 60 anos vimos ajudando os países do mundo inteiro a projetar e operar sistemas de cumprimento de metas sociais. Podemos analisar um sistema de prestação de serviços em sua totalidade, definir os hiatos e estrangulamentos da capacidade e identificar os pontos de intervenção. Ao trabalharmos com países na construção da ciência da prestação de serviços, estas são as questões que enfrentaremos, utilizando os conhecimentos de nossos sistemas existentes e aplicando-os de novas formas.   

Para abranger a complexidade dos desafios da prestação de serviços, uma futura ciência dessa prestação deverá ser multidisciplinar desde o início. Este é o meu terceiro ponto. A aprendizagem da prestação de serviços deverá basear-se no seguinte: ciências naturais; ciências sociais; engenharia e matemática aplicada e disciplinas empresariais, além de campos de humanidades, como história e ética.

Quando o Professor Michael Porter e eu elaboramos o projeto prestação de serviços da Saúde Global em Harvard, estudamos os desafios dos sistemas de saúde. Descobrimos que, para conseguir um entendimento profundo dos sistemas de saúde, o melhor enfoque seria enviar equipes multidisciplinares de pesquisadores que incluíssem médicos e especialistas em saúde pública, mas também antropólogos, peritos em administração, historiadores, jornalistas e especialistas em ética. A triangulação de diferentes formas de dados ajudou-nos a descobrir o que estava impulsionando o sucesso ou fracasso dos programas que estávamos analisando.    

Um dos pontos fortes que distinguem o Grupo Banco Mundial é nossa capacidade de combinar a profundidade do conhecimento em campos-chave do desenvolvimento com a abrangência multidisciplinar. Podemos mobilizar os peritos internos em toda uma série de disciplinas. E por meio de nosso poder de mobilização de formação de redes podemos conectar nossos clientes a uma conjunto ainda mais amplo de perícia internacional que ultrapassa nossa instituição.

Quarto, o conhecimento da prestação de serviços é interativo e está em evolução. Difere do que estamos acostumados nas disciplinas mais quantitativas e abstratas, menos dependentes do contexto. 

Como as soluções da prestação de serviços mudam com o contexto, o conhecimento necessário à prestação é constantemente renovado por meio do diálogo entre os profissionais e interessados. Os princípios da prestação de serviços surgem por meio da colaboração e comunicação à medida que as pessoas e instituições resolvem os problemas em conjunto.

O conhecimento da prestação de serviços é um conhecimento “social” de ma maneira que as formas tradicionais do conhecimento científico nem sempre foram.

Eis aqui um exemplo do que isso significa na prática. Na década de 1980 os esforços para aumentar as taxas de sobrevivência infantil nos países pobres estavam estagnados. Milhões de crianças morriam anualmente de doenças que podiam ser prevenidas ou curadas com tecnologias simples e baratas, incluindo vacinas. Mas a prestação de serviços dessas simples intervenções estava paralisada.

Agências de vanguarda, especialmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), perceberam que precisavam de uma mudança dramática de estratégia. A solução foi criar uma força-tarefa constituída de implementadores experientes, cuja autoridade foi aceita por todas as entidades. Pessoas como Bill Foege que havia comandado partes importantes da histórica campanha da OMS de erradicação da varíola. O novo grupo foi chamado Força-Tarefa para a Sobrevivência Infantil e Desenvolvimento. Essencialmente era um workshop sobre prestação de serviços. Muitas das reuniões do grupo foram sessões intensas de busca de soluções para problemas. Os participantes identificaram estrangulamentos da prestação de serviços que estavam bloqueando o progresso nos países e usaram sua experiência coletiva para encontrar soluções.

A Força-Tarefa mudou a história. Em apenas seis anos, de 1984 a 1990, a cobertura da vacinação infantil nos países em desenvolvimento aumentou drasticamente, quadruplicando de 20% para 80% segundo estimativas. Qual foi o segredo? As tecnologias utilizadas já eram conhecidas de longa data. O estava faltando era um contexto de aprendizagem conjunta e tomada de decisões entre os implementadores-mestre. A chave era a solução interativa de problemas com um enfoque direto nos resultados. Esses são os tipos de modelo que estamos procurando.

Uma consequência da natureza interativa do conhecimento necessário à prestação de serviços é o fato de a qualidade de nosso conhecimento depender do caráter inclusivo do debate. Excluir os acionistas da conversação priva-nos de dados críticos. Portanto, se as vozes das comunidades de base não forem ouvidas, nossa compreensão dos processos de prestação de serviços serão deformados e incompletos. Em nosso trabalho de prestação de serviços o Grupo Banco Mundial e nossos países parceiros reforçarão a participação das comunidades beneficiárias em todos os aspectos da formulação, realização, monitoramento e avaliação dos projetos.

Permitam-me agora descrever três medidas práticas que o Banco Mundial adotará para reforçar nossa colaboração com os países na prestação de serviços e lançar os fundamentos da ciência da prestação de serviços.

Primeiro, o Grupo Banco Mundial apoiará uma série inicial de três países selecionados para criar núcleos nacionais de conhecimento necessário à prestação de serviços para o desenvolvimento. Esses núcleos coordenarão pessoas e recursos para enfrentar problemas de prestação de serviços de prioridade nacional e divulgar a aprendizagem. Os países reestruturarão seus núcleos de acordo com as respectivas agendas nacionais. Na maioria dos casos os núcleos basear-se-ão em instituições públicas ou privadas existentes. Algumas talvez sejam totalmente “virtuais”. Se os países solicitarem, o Banco Mundial proporcionará financiamento inicial, assistência técnica e apoio ao intercâmbio e divulgação de conhecimentos.        

Tenho a satisfação de anunciar que o Sr. Pravin Gordhan, Ministro das Finanças da África do Sul, confirmou a intenção de seu país de ser o primeiro país-piloto. Quando visitei a África do Sul no mês passado, o Presidente Zuma, o Ministro Gordhan e outros líderes afirmaram claramente que a melhoria da prestação de serviços na infraestrutura central e nos setores sociais era sua prioridade nacional máxima. A prestação de serviços é a chave para alcançar a meta da África do Sul de prosperidade inclusiva e o governo desse país está determinado a fazer o que for necessário. O Grupo Banco Mundial espera trabalhar com a África do Sul quando país enfrentar esse desafio histórico. Incentivamos outros países interessadas a entrarem em contato conosco. 

Segundo, mudaremos o enfoque do trabalho de medição do Banco Mundial para apoiar melhor o progresso dos países na prestação de serviços. Especificamente, saber se a prestação de serviços está funcionando e se os indicadores de resultados não são suficientes. Precisamos medir os resultados. Não somente quantos quilômetros de estradas rurais estão sendo construídos, mas se as estradas estão ajudando a reduzir a pobreza. Não somente quantas crianças estão na escola, mas se estão aprendendo. Nos últimos anos o Banco Mundial tomou medidas para incorporar mais medidas de resultados em nossa coleta de dados dos projetos. Estamos comprometidos com a expansão desse enfoque. Investiremos em ferramentas e estratégias para coletar dados sobre resultados que possam informar as decisões dos países a respeito da prestação de serviços para obter melhores resultados.

Terceiro, utilizaremos enfoques e ferramentas inovadores para captar o conhecimento tácito dos principais implementadores e ensinar técnicas de prestação de serviços. Aplicaremos uma série de estratégias. Três desses enfoques são aprendizagem baseadas em casos; “tutorização clínica”; e compromisso de aprender com os fracassos.

Uma ferramenta comprovada para ensinar profissionais sobre sistemas complexos é o método de estudo de casos utilizado em escolas de administração de empresas, engenharia e ciências da saúde. O método de casos usa um modelo narrativo que evita reduzir situações complexas a esquemas simplistas. Na Universidade de Harvard descobrimos que o método de estudos de casos é uma forma extremamente eficaz para estudar como responsáveis pela tomada de decisões sobre saúde global, por exemplo, navegam através de sistemas complexos. No Grupo Banco Mundial construímos uma biblioteca de estudos de casos de prestação de serviços e os utilizamos como recurso para treinar o pessoal do Banco Mundial e implementadores dos países que querem aproveitar esta oportunidade. Convidaremos nossos parceiros do mundo inteiro a contribuírem para o que esperamos seja uma biblioteca de casos em rápida expansão.

Criaremos também um programa de tutorização para formar a próxima geração de implementadores-mestre do Grupo Banco Mundial. Esse programa designará jovens profissionais promissores para trabalharem com experimentadores experientes. Os implementadores-mestre transmitirão seu know-how por meio do trabalho cooperativo abordando problemas reais para clientes reais.

Um terceiro enfoque reveste-se de importância especial para mim.

Historicamente as instituições de desenvolvimento têm hesitado em reconhecer fracassos e muito menos em analisá-los publicamente. Mas é exatamente isso que faremos no Grupo Banco Mundial.

As políticas e projetos que fracassam trazem consigo lições valiosas. No entanto, as instituições são frequentemente cautelosas em examiná-los novamente para aprender essas lições. Como podemos evitar a repetição de erros do passado se não falarmos abertamente sobre esses erros, diagnosticarmos o que deu errado e compartilharmos nossas conclusões de forma que outros possam evitar as mesmas armadilhas?

Quero que o Grupo Banco Mundial dê um exemplo para a comunidade de desenvolvimento. Mais uma vez aproveitaremos precedentes promissores. Muitos funcionários do Banco Mundial já participaram de discussões chamadas “feiras de fracassos”, que examinam por que determinados projetos ficaram aquém das expectativas. Quero expandir esses eventos, torná-los mais sistemáticos e divulgar seus resultados.

Começarei a presidir esses workshops pessoalmente. O primeiro está programado para o início de dezembro. Essas sessões não colocarão a culpa no pessoal. Ao contrário, elas nos permitirão compreender coletivamente os fatores que levaram as boas intenções a produzirem resultados pouco satisfatórios. Avançando ainda mais, ampliaremos a participação nesses exercícios para incluir comunidades afetadas e críticos externos e publicaremos os trabalhos e conclusões.

Ao encerrar, desejo retornar ao âmago do trabalho do Banco Mundial: nossa relação com os países e com os pobres. A meu ver, nosso trabalho conjunto na criação da ciência da prestação de serviços contribuirá para a evolução fundamental dessa relação.

Falei sobre a natureza colaborativa e interativa da aprendizagem da prestação de serviços. Há algum tempo o Banco Mundial e seus clientes vêm passando de uma relação tradicional de mutuante e mutuário para uma verdadeira parceria na realização e aprendizagem por meio das quais vinculamos nossas aptidões na procura de ações baseadas na evidência em torno de metas comuns.

A ciência da prestação de serviços é um catalisador que acelerará essa passagem. Além de fornecer dinheiro e conhecimentos, o Grupo Banco Mundial será uma organização que inova, bem como cria e aprende conjunto com seus clientes.

Ao mesmo tempo, o Banco Mundial também serve seus parceiros fazendo algo que nenhum deles pode fazer isoladamente: criar bens públicos globais relacionados com o conhecimento que apoiam os processos de aprendizagem compartilhada nos níveis regional, nacional e subnacional.

Tenho discutido a ciência da prestação de serviços com líderes políticos do mundo inteiro. A reação deles é frequentemente de alívio pelo fato de os parceiros globais estarem finalmente compreendendo. Os países vêm enfrentando esses desafios há anos e sabem que o risco é alto. 

Olhando além da incerteza econômica de hoje, muitos líderes governamentais, o setor privado e a sociedade civil continuam comprometidos com objetivos corajosos para reduzir a pobreza e construir a prosperidade. Estão certos em manter suas metas ambiciosas. E os países estão certos em ver que a prestação de serviços com frequência significará a diferença entre estagnação e crescimento.

Juntos abriremos um novo capítulo no desenvolvimento: uma era em que melhoraremos continuamente nossa capacidade de cumprir nossas promessas ao povo, especialmente aos mais pobres.

Muito obrigado.

 

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