WASHINGTON, 7 de Outubro, 2014 – Apesar de um crescimento global mais fraco do que o esperado e preços das matérias-primas estáveis ou em declínio, as economias africanas continuam a expandir-se a um ritmo moderadamente rápido, com um crescimento do PIB regional a aumentar previsivelmente para 5,2 por cento ao ano em 2015-16, em comparação com 4,6 por cento em 2014, de acordo com a previsão do recente Africa’s Pulse, a análise bianual das questões que definem as perspectivas económicas de África.
Significativos investimentos públicos em infra-estruturas, o aumento da produção agrícola e o alargar de serviços no sector de retalho africano, telecoms, transportes e financeiros, deverão continuar a impulsionar o crescimento na região. Esta subida do crescimento deverá ocorrer num contexto de preços mais baixos das matérias-primas, e menor investimento directo estrangeiro, em resultado de condições económicas globais algo deprimidas.
Os preços das matérias-primas mantêm-se muito importantes para as perspectivas de África, já que, como nota o relatório, “as matérias-primas primárias continuam a representar três-quartos da totalidade de exportações de bens da África Subsariana, e a quota das cinco principais exportações da região subiu de 60 por cento em 2013, quando era de 41 por cento em 1995”.
“Globalmente,a previsão é que África continue a ser uma das três regiões do mundo em mais rápido crescimento e que mantenha o seu excelente desempenho de expansão continuada ao longo já de 20anos”, diz Francisco Ferreira, Economista Principal do Banco Mundial, para África. “Os riscos negativos, que requerem uma maior preparação, incluem a subida dos défices fiscais numa série de países; consequências económicas das actividades de grupos terroristas, como os Boko Haram e Al Shabaab e, da maior premência, o ataque da epidemia de ébola, na África Ocidental.”
Um estudo do Banco Mundial, sobre o provável impacto económico do Ébola, publicado o mês passado, sugeria que se o vírus se continuar a propagar nos três países mais afectados, o seu impacto económico poderá ser oito vezes maior, desfechando um golpe potencialmente catastrófico em países já muito frágeis, como a Guiné, Libéria e Serra Leoa. O Grupo Banco Mundial está a mobilizar um pacote financiamento de 400 milhões de dólares para ajudar os países mais duramente atingidos pela crise.
Tendências de crescimento em África: o crescimento abrandou significativamente na África do Sul, a segunda maior economia da região, devido a questões estruturais e a uma baixa confiança de investidores. A economia sul-africana cresceu um modesto 1.0 por cento no período homólogo, no segundo trimestre de 2014, a sua mais baixa taxa de crescimento desde a crise financeira de 2009. Em contraste, a actividade económica viu-se reforçada na Nigéria, a maior economia da região. O PIB subiu 6,5 por cento em termos homólogos, no segundo trimestre, em comparação com um crescimento de 6,2 por cento de no primeiro trimestre.
O crescimento manteve-se também robusto em muitas das regiões de baixo rendimento da região, nomeadamente na Costa do Marfim, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. Na Costa do Marfim, por exemplo, um forte aumento da produção de cacau e arroz acentuou o crescimento da agricultura e ajudou a sustentar o elevado crescimento do país. O robusto crescimento da Etiópia continuou a ser impulsionado pela agricultura e pelo investimento público, particularmente nas infra-estruturas.
As taxas de inflação subiram numa série de países, mas foram mais um factor mais preocupante nos mercados dos países de fronteira, que sofreram também grandes depreciações da moeda – em particular o Gana. Em alguns casos, incluindo o Gana e a Zâmbia, a situação orçamental manteve-se fraca devido ao aumento das despesas correntes, motivadas pela subida dos salários e, em certos casos, receitas mais débeis. Elevados défices orçamentais estão a reduzir os “amortecedores” fiscais e a afectar a capacidade destes países para reagir a choques exógenos.
A transformação económica tornar-se-á ainda mais essencial: num estudo especial dos padrões de transformação estrutural de África e da dinâmica da pobreza, Africa’s Pulse conclui que a região está em grande medida a passar ao largo da industrialização como grande motor de crescimento e de emprego. Em vez disso, diz o estudo, as indústrias extractivas, no sector dos recursos naturais e uma vaga de serviços na indústria, estão a impulsionar o crescimento de África.
As quotas das manufacturas e da agricultura estão a declinar em toda a região, embora a maioria dos trabalhadores – e quase 80% dos pobres retirem a maior parte dos seus rendimentos da agricultura.
“Quase duas décadas de forte crescimento estão a transformar as economias de África, mas a grande mudança estrutural não é aquela que o mundo esperava. A maioria dos empregos em África continuam a ser a agricultura e estão a surgir nos serviços – mas não na indústria e manufacturas”, diz Punam Chuhan-Pole, Economista Principal do Banco Mundial e co-autora de “África’s Pulse” para a área de África. “A boa notícia é que, no caso de África, este crescimento na agricultura e no sector dos serviços, tem sido mais eficaz para a redução da pobreza que o crescimento da indústria. No resto do mundo, pelo contrário, a indústria e os serviços têm um maior impacto na redução da pobreza.”
Chuhan-Pole diz que entre 1996 e 2011, o crescimento per capita nos serviços, foi em média de 2,6 por cento, comparado com 0,9 por cento e 1,7 por cento, na agricultura e na indústria, respectivamente. Acrescenta ela que o padrão de crescimento e de transformação económica tem implicações na redução das taxas de redução da pobreza de uma forma mais significativa: o aumento da produtividade agrícola e a diversificação dos rendimentos rurais são importantes motores tanto da transformação estrutural – libertando trabalhadores agrícolas – como da redução da pobreza. Os investimentos em bens públicos e serviços rurais (e.g. educação, saúde, estadas rurais, electricidade e TIC), inclusive nas pequenas cidades, são ferramentas essenciais para promover as economias rurais e o emprego.
Por último, como refere este novo relatório, “ainda que as manufacturas possam não ser uma panaceia, África pode e deve alargar a sua base de manufacturas, especialmente encorajando os seus aspectos fundamentais – clima de negócios, estabilidade macroeconómica, energia confiável e a custo razoável, menores custos de transportes e uma mão-de-obra mais qualificada – que beneficiarão todos os sectores.”
Como o Banco Mundial Apoia África: O Grupo do Banco continuou o seu forte empenhamento em África, proporcionando USD10,6 mil milhões em novos empréstimos para 160 projectos neste ano fiscal AF14).
Estes compromissos incluem uma cifra que é um novo record de USD10,2 mil milhões de créditos e subvenções a zero-juros da Associação Internacional para o Desenvolvimento (AID), o fundo do Banco Mundial para os países mais pobres. Este é o mais elevado nível de apoio AID, em qualquer região, na história do Banco Mundial.