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OPINIÃO21 de agosto de 2023

A economia brasileira caminha para um “soft landing”?

Turbulências à frente exigem uma gestão cautelosa e vitórias na tramitação de reformas se o Brasil quiser pousar suavemente.

 “Soft landing” – ou “aterrissagem suave” em português – é a tarefa difícil, muitas vezes inatingível, de reduzir a inflação após um aperto na política monetária, sem desencadear uma recessão. Para combater a inflação, as autoridades aumentam as taxas de juros, tornando o crédito mais caro. Isso reduz a demanda agregada e tira parte da pressão inflacionária da economia. O desafio é não tirar pressão demais e, inadvertidamente, provocar uma recessão. É algo que requer habilidade na formulação de políticas e resiliência econômica, aliados à ausência de choques adversos.

O Brasil está caminhando nessa direção? Após um pico de 12% em abril de 2022, a inflação reduziu aos atuais 4%.  O mais recente índice de 8% de desemprego em junho deste ano é o menor desde 2015.  O número de subempregados (aqueles que trabalham menos de 40 horas semanais) também diminuiu no último ano. Essas tendências levaram analistas econômicos a atualizar as previsões de crescimento e a reduzir as classificações de risco ao longo do ano. Também proporcionaram a redução de 0,5 ponto percentual da Selic em julho, sinalizando o início de um ciclo cauteloso de flexibilização da política monetária.

O que ajudou o Brasil a chegar a esse ponto? Uma safra robusta ofereceu proteção contra a desaceleração do preço das commodities, contribuindo para uma balança comercial mais forte (alta de 18% em junho de 2023 em relação ao ano anterior). O consumo das famílias, embora prejudicado pela inflação, tem sido amortecido por um mercado de trabalho robusto e transferências de renda para famílias vulneráveis. Outros fatores são de natureza mais institucional. Um mercado de trabalho mais flexível sustentou a rápida recuperação de empregos à medida que a pandemia arrefecia. A gestão prudente das finanças públicas, mesmo enquanto o país se adaptava e debatia suas regras fiscais, foi fonte de estabilidade macroeconômica (o saldo primário ficou em -0,24% em junho de 2023, quase 10 pontos percentuais abaixo do pico de 2020). E, o que é mais importante, a reação rápida e confiável da política monetária brasileira à inflação teria sido mais fraca na falta de um banco central independente e competente.

Esses indicadores trazem algum alívio, mas nem tudo são boas notícias. A política monetária ainda é apertada e entra em vigor com algum atraso, o que significa que o impacto total na atividade econômica e no emprego pode não ter sido sentido ainda.  Os recentes sinais de arrefecimento no ritmo de recuperação do mercado de trabalho (a criação líquida de empregos formais no primeiro semestre de 2023 ficou 26% abaixo do mesmo período do ano passado) evidenciam a necessidade de administrar esse risco com cuidado. Na esfera global, uma perspectiva de abrandamento no preço das commodities e uma desaceleração do crescimento mundial, inclusive entre alguns dos principais parceiros comerciais do Brasil, podem criar condições mais desafiadoras.

O fenômeno climático El Niño acrescenta possíveis obstáculos. Problemas estruturais, principalmente a baixa produtividade que tem sustentado o fraco desempenho econômico do Brasil nas duas últimas décadas, mantêm o país em baixo crescimento e limita sua capacidade de enfrentar choques.

A formulação cautelosa de políticas macroeconômicas será essencial para enfrentar as pressões inflacionárias remanescentes, especialmente no núcleo da inflação, ao mesmo tempo em que se reconstituem as reservas fiscais. Porém, o avanço das reformas estruturais que há muito frustram a economia é igualmente importante. Entre elas, a reforma tributária é uma prioridade; garantir essa reforma crítica ajudará a aumentar a confiança e o investimento na economia em um momento em que os ventos favoráveis podem estar diminuindo. Também é essencial fazer a transição para um modelo econômico que estimule a competitividade e a criação de empregos por meio de maior competição nos mercados, maior integração comercial e estímulo à adoção tecnológica. Isso oferecerá aos formuladores de políticas uma alternativa à mistura improdutiva de incentivos e “guerras” fiscais.

Tais medidas não apenas tornariam um “soft landing” mais provável, mas também criariam uma “pista de pouso” mais longa e confortável em caso de choques futuros.

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