Ampliação da insegurança alimentar e das doenças respiratórias são alguns dos prejuízos provocados
Pablo Acosta
Folha de S. Paulo
O aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos extremos, como as ondas de calor e as alterações nos regimes de chuva e seca, têm impactos diretos e indiretos na vida das pessoas, principalmente das mais vulnerabilizadas.
A ampliação da insegurança alimentar, das doenças respiratórias, mentais e cardiovasculares e das transmitidas por vetores, são alguns dos inúmeros prejuízos que as mudanças climáticas provocam aos já sobrecarregados sistemas de saúde. Esses desafios, agravados pelo subfinanciamento, a escassez de profissionais e o rápido envelhecimento populacional em curso, podem resultar em consequências ainda mais devastadoras se não forem tomadas medidas adequadas.
A pandemia de Covid-19 evidenciou as fragilidades e fortalezas dos sistemas saúde. De acordo com o Relatório Panorama da Saúde: América Latina e Caribe 2023, preparado pelo Banco Mundial e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o alto número de mortes ressaltou a necessidade de respostas rápidas a emergências, de valorização e melhor distribuição da força de trabalho, do fortalecimento da Atenção Primária à Saúde e do sistema de governança, e da tomada de decisões com base em evidências científicas, considerando a integralidade e a garantia da equidade.
Segundo o relatório, é fundamental garantir investimentos para que os sistemas de saúde sejam mais resilientes e estejam prontos para responder às emergências, minimizando os possíveis custos humanos, sociais e econômicos. Aumentar a resiliência do setor significa reduzir vulnerabilidades, sejam elas do próprio sistema de saúde ou populacionais, dado que as condições de saúde da população são determinadas por condições sociais, econômicas e ambientais. Assim, é necessária a definição de políticas intersetoriais, que envolvam todos os níveis de atenção e ações relacionadas à prevenção e promoção de saúde.
O desenvolvimento de resiliência climática é fundamental, especialmente nos territórios mais desiguais socioeconomicamente, como nas regiões norte e nordeste do Brasil, pois existe uma clara correlação entre vulnerabilidades socioeconômicas e ambientais. Os efeitos interativos dessa relação podem resultar em: interrupção das atividades diárias; danos diretos à infraestrutura social; prejuízos econômicos; taxas mais altas de mortalidade e morbidade.
A combinação de desmatamento, planejamento urbano deficiente e rápida taxa de urbanização das cidades, tem aumentado o risco de efeitos adversos à saúde. Além disso, o Brasil ainda precisa adotar melhores práticas ambientais. Embora a emissão geral de material particulado ao ar livre seja maior em países mais ricos, a pegada ambiental do setor de saúde brasileiro é uma das 10 maiores do mundo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2020, o Brasil indicou possuir sistemas de vigilância e planos de resposta para doenças respiratórias e transmitidas pelo ar, eventos climáticos extremos, desnutrição e doenças transmitidas por meio de alimentos, saúde mental e psicossocial e doenças não-transmissíveis. No entanto, indicou que seus sistemas de alertas não são informados por mudanças climáticas para que possam antecipar as respostas a essas doenças.
Para o Banco Mundial e a OCDE, as recomendações para fortalecer a resiliência do setor de saúde brasileiro a mudanças climáticas incluem: o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce para identificar surtos; o fortalecimento da formação e capacitação de profissionais da saúde sobre doenças (re)emergentes; a formulação de abordagens preventivas e o manejo adequado dos riscos associados às mudanças climáticas; o estabelecimento de protocolos de comunicação de risco com linguagem simples e inclusiva; e o combate à desinformação, antes, durante e após eventos.
Um sistema de saúde resiliente às mudanças climáticas induz um desenvolvimento humano mais saudável, equitativo e sustentável. Ele estabelece, também, as bases para o crescimento econômico e para a universalização do acesso aos serviços de saúde, contribuindo para a melhoria de vida das pessoas e para a territorialização da agenda global de clima, saúde e ambiente.
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Esta coluna foi escrita em colaboração com meus colegas do Banco Mundial Roberto Iunes, economista sênior, Daniela Pena de Lima, oficial sênior de operações, e Flora Fonseca, consultora.