São 9h30 de uma sexta-feira em Salvador, um dia movimentado na Unidade Básica de Saúde de Imbuí. Suzane Araújo, bolsista do programa Médicos pelo Brasil, tem à frente o paciente Clayton Arapiraca, aposentado, 62 anos, que está ali para uma consulta de rotina depois de uma cirurgia. Para ver o prontuário, ela não precisa ir à recepção buscar pastas ou papéis: basta acessar no computador o sistema Vida+, uma das ferramentas que fazem parte da recente transformação digital na saúde pública do município. Ali, Suzane confere informações sobre consultas passadas, medicações e vacinas, entre outras, além de inserir atualizações sobre Clayton.
“Eu trabalhei com papel no interior e já vi prontuários velhinhos, amarelinhos. O digital facilita muito a vida”, conta a profissional. Agora, as informações ficam guardadas na nuvem, o que ajuda a preservá-las mais facilmente em caso de desastres.
A criação e implementação da ferramenta estão entre os resultados mais importantes do Projeto Salvador Social, da prefeitura da capital baiana, com apoio do Banco Mundial. Ao longo de cinco anos, o projeto ajudou a catalisar muitas iniciativas que já eram acalentadas pela administração local, tanto na saúde quanto na educação e na proteção social.
O Vida+ pode ser atualmente usado pelos profissionais de unidades básicas de saúde, do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), dos serviços de atenção especializada (SAES) e das policlínicas. No total, são 175 locais, o que supera a meta inicial do projeto, de 126. Ainda falta estar disponível nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
“Quando estiver implementado nos CAPS e nas UPAS, será possível ter o itinerário terapêutico completo do paciente na nossa rede”, explica Alcione Anunciação, coordenadora da unidade de projetos estratégicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salvador.
A plataforma ainda pode ser usada para acompanhar as etapas do pré-natal e está atrelada ao programa Mãe Salvador, da prefeitura. Com os dados no sistema, as mulheres mais vulneráveis conseguem acessar benefícios como cartão de transporte para a gestante e auxílio natalidade.
Estruturar o serviço exigiu grande coordenação dos profissionais das áreas de dados e tecnologia da informação da SMS, além de investimentos em infraestrutura. Isso porque nem todas as unidades de saúde estavam preparadas para receber o cabeamento de internet rápida, necessário para inserir e transmitir os dados na ferramenta. Também foi preciso adquirir impressoras e outros equipamentos, e o Salvador Social apoiou o município em todos esses esforços.
Outra tarefa fundamental, já que os profissionais de saúde estão lidando com informações sensíveis e confidenciais, foi definir níveis de acesso a elas. Nem todos podem ter acesso aos dados completos; tampouco eles são compartilhados com as demais secretarias do município. “Temos muito cuidado com a privacidade”, resume Rosa Fernandes, assessora chefe da Assessoria de Planejamento da SMS.