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REPORTAGEM13 de junho de 2024

Salvador impulsiona a transformação digital na área da saúde pública

Dra Suzane Araujo e Clayton Arapiraca - Salvador, Bahia

A médica de família Suzane Araújo e o aposentado Clayton Arapiraca

Fotos: Mariana Ceratti/Banco Mundial

Com apoio do projeto Salvador Social, apoiado pelo Banco Mundial, município implementou um sistema de prontuário eletrônico, além de uma sala de situação para agilizar a tomada de decisões

São 9h30 de uma sexta-feira em Salvador, um dia movimentado na Unidade Básica de Saúde de Imbuí. Suzane Araújo, bolsista do programa Médicos pelo Brasil, tem à frente o paciente Clayton Arapiraca, aposentado, 62 anos, que está ali para uma consulta de rotina depois de uma cirurgia. Para ver o prontuário, ela não precisa ir à recepção buscar pastas ou papéis: basta acessar no computador o sistema Vida+, uma das ferramentas que fazem parte da recente transformação digital na saúde pública do município. Ali, Suzane confere informações sobre consultas passadas, medicações e vacinas, entre outras, além de inserir atualizações sobre Clayton.

“Eu trabalhei com papel no interior e já vi prontuários velhinhos, amarelinhos. O digital facilita muito a vida”, conta a profissional. Agora, as informações ficam guardadas na nuvem, o que ajuda a preservá-las mais facilmente em caso de desastres.

A criação e implementação da ferramenta estão entre os resultados mais importantes do Projeto Salvador Social, da prefeitura da capital baiana, com apoio do Banco Mundial. Ao longo de cinco anos, o projeto ajudou a catalisar muitas iniciativas que já eram acalentadas pela administração local, tanto na saúde quanto na educação e na proteção social.  

O Vida+ pode ser atualmente usado pelos profissionais de unidades básicas de saúde, do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), dos serviços de atenção especializada (SAES) e das policlínicas. No total, são 175 locais, o que supera a meta inicial do projeto, de 126. Ainda falta estar disponível nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

“Quando estiver implementado nos CAPS e nas UPAS, será possível ter o itinerário terapêutico completo do paciente na nossa rede”, explica Alcione Anunciação, coordenadora da unidade de projetos estratégicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salvador.

A plataforma ainda pode ser usada para acompanhar as etapas do pré-natal e está atrelada ao programa Mãe Salvador, da prefeitura. Com os dados no sistema, as mulheres mais vulneráveis conseguem acessar benefícios como cartão de transporte para a gestante e auxílio natalidade.

Estruturar o serviço exigiu grande coordenação dos profissionais das áreas de dados e tecnologia da informação da SMS, além de investimentos em infraestrutura. Isso porque nem todas as unidades de saúde estavam preparadas para receber o cabeamento de internet rápida, necessário para inserir e transmitir os dados na ferramenta. Também foi preciso adquirir impressoras e outros equipamentos, e o Salvador Social apoiou o município em todos esses esforços.

Outra tarefa fundamental, já que os profissionais de saúde estão lidando com informações sensíveis e confidenciais, foi definir níveis de acesso a elas. Nem todos podem ter acesso aos dados completos; tampouco eles são compartilhados com as demais secretarias do município. “Temos muito cuidado com a privacidade”, resume Rosa Fernandes, assessora chefe da Assessoria de Planejamento da SMS.

Sala de situação da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

A equipe multidisciplinar da Sala de Situação criada na Secretaria Municipal de Saúde

Jessi Leal mostra a Sala de Situação da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

Jessidenes Leal, mais conhecido como Jessi, gerente de projetos estratégicos na SMS

Gráficos e mapas

Enquanto milhares de pacientes se consultam, profissionais de diferentes perfis trabalham na Sala de Situação criada na Secretaria Municipal de Saúde. Inaugurada em dezembro de 2022, trata-se de um espaço físico e virtual que reúne sanitaristas, epidemiologistas, estatísticos, analistas de sistemas e pessoal administrativo para processar dados do setor e ajudar os formuladores de políticas públicas a tomar decisões rapidamente. A equipe usa computadores e um painel de business intelligence, que analisa dados e apresenta as descobertas em formato de gráficos e mapas.  

Segundo Rosa, a implementação do espaço era um sonho antigo e tornou-se possível com o Salvador Social, tanto na fase 1 quanto na 2: “O projeto possibilitou a compra de equipamentos para estruturar a sala, além de softwares que só conseguimos adquirir por causa do Salvador Social”.

Ela ainda lembra que, antes da inauguração da sala, um projeto piloto fundamental foi a criação do Centro de Operações Emergenciais (COE) da Covid-19, que usava informações coletadas pelo Vida +.

Anteriormente a essas iniciativas, os dados estavam disponíveis em planilhas descentralizadas e desarticuladas. “Nas reuniões, as pessoas se debruçavam sobre papéis. Gastávamos 80% do nosso tempo produzindo informações e 20% tomando decisões. Agora, é o contrário”, explica o estatístico Jessidenes Leal, mais conhecido como Jessi, gerente de projetos estratégicos na SMS.  

Para promover mudanças, foi preciso mais do que tecnologia e bons profissionais: também era necessário uniformizar a coleta dos dados e a forma de calculá-los e compartilhá-los. Isso se deu por meio de uma articulação com as áreas de vigilância em saúde, atenção básica e regulação, controle e avaliação.

Ao usar a business intelligence, a equipe da SMS descobriu, por exemplo, que entre 85% e 95% dos casos de alta complexidade de Salvador eram de casos de pessoas vindas do interior. O município, com base nesses dados, repactuou custos e pagamentos com os demais municípios da Bahia.

Ambições e desafios

Com a sala de situação funcionando plenamente, os profissionais agora têm novos sonhos. O principal deles é incorporar a inteligência artificial para fazer predições. “Podemos estar sendo muito atrevidos, mas é com isso que o mundo vai trabalhar. Queremos ser uma referência”, diz Rosa.

Para isso, é preciso formar os gestores de saúde para trabalhar os dados e, com base neles, planejar e agir. Um primeiro passo foi a realização, com apoio do Salvador Social, de um curso de ciência de dados para as diretorias estratégicas da SMS. Na capacitação, os profissionais aprenderam a construir coletivamente, com base em casos práticos, os indicadores nos painéis da sala de situação.

Outra prioridade é o planejamento de uma assistência integrada para os transtornos mentais e os idosos, levando-se em conta as questões trazidas pela pandemia de Covid-19 e pelo envelhecimento da população.

Seja qual for o desafio, agora os profissionais de Salvador podem trabalhar com o que há de mais moderno. O resultado poderá ser visto tanto nas decisões tomadas pelos gestores quanto no dia a dia de médicos e pacientes, como Suzane e Clayton.

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