Elizabeth Afonso Gonga tem uma rotina fixa durante a semana. Todas as manhãs, às 7h00, chega ao mercado do KM-30, um grande espaço situado nos arredores de Luanda. Uma vez lá, limpa a sua banca e arruma os produtos - entre os quais feijão, arroz e amendoins - que vai vender durante o dia para ganhar a vida e sustentar a família. Depois disso, entre as 7h30 e as 9h30, frequenta aulas de educação de adultos numa das duas salas construídas pela administração do mercado para dar aulas de alfabetização aos vendedores. Durante a sua ausência, a sua colega Joana Domingos toma conta da sua banca e trata das vendas em seu nome. Quando Isabel regressa, é a sua vez de tomar conta da banca de Joana, enquanto a sua amiga frequenta uma aula semelhante, das 9h45 às 11h15.
O mercado KM-30 é o maior centro de distribuição de produtos agrícolas em Angola. Espalhado por 1,9 milhões de metros quadrados, tem sete pavilhões e cerca de 3.500 comerciantes registados. Todos os dias, recebe camiões carregados de produtos alimentares como legumes, frutas, tubérculos, gado bovino, caprino, suíno e aves de criação, a maioria dos quais provenientes do interior do país.
A grande maioria dos comerciantes do mercado KM-30 são mulheres que, infelizmente, nunca tiveram a oportunidade de receber uma educação e de adquirir competências básicas de leitura e escrita. Em 2018, o Instituto Nacional de Estatística de Angola publicou dados que indicavam que a taxa de analfabetismo do país era de 24%. No entanto, uma análise mais aprofundada dos dados, baseada no género, revelou uma disparidade significativa entre homens e mulheres: enquanto apenas 12% dos homens eram analfabetos, a taxa entre as mulheres era superior a 42%. Esta disparidade deve-se a uma série de factores, que incluem a discriminação cultural e baseada no género, a falta de acesso à educação e a pobreza.
Para combater o analfabetismo entre as mulheres, o Ministério da Educação de Angola expandiu o programa de educação de segunda oportunidade no âmbito do Projeto de Empoderamento das Raparigas e Aprendizagem para Todos, apoiado pelo Banco Mundial. Esta expansão proporciona às raparigas e rapazes com idade igual ou superior a 15 anos que não frequentam a escola uma segunda oportunidade para completarem a sua educação e adquirirem competências valiosas para a vida.
Esta iniciativa oferece um ambiente de aprendizagem seguro e solidário no qual os indivíduos podem melhorar as suas capacidades de leitura e escrita e aprender aritmética básica, um conjunto importante de competências que os pode ajudar a tomar decisões informadas para os seus negócios comerciais e noutras áreas das suas vidas.
Nos últimos anos, foram criadas muitas salas de aulas de educação de segunda oportunidade em mercados, prisões e igrejas em Angola. A Isabel e a Joana são duas das mulheres que frequentam as aulas no mercado ao ar livre do KM-30. Não estão sozinhas: muitas outras mulheres do mercado também frequentam as aulas, reconhecendo o programa como a sua única hipótese de adquirir as competências de que necessitam para ter êxito. Graças ao projeto e a estas aulas de segunda oportunidade, têm agora esperança num futuro melhor.