Fortaleza, a capital do Ceará, já se tornou conhecida pelas praias, pela noite do caranguejo, pelo forró e pelos shows de humor. Menos famosa, mas com muito potencial para inspirar o Brasil e o mundo, é a recuperação de espaços verdes urbanos, por meio de iniciativas que integram o Projeto Fortaleza Cidade Sustentável.
Tendo à frente a Prefeitura de Fortaleza, com apoio do Banco Mundial, o projeto foca em melhorar o ambiente urbano e o uso do solo, apoiar a implementação de políticas urbanas e ambientais e reabilitar espaços públicos por meio de intervenções na bacia da Vertente Marítima e outras áreas verdes selecionadas. Até o momento, foram investidos US$ 36 milhões, que correspondem a quase metade do valor total do empréstimo (US$ 73,3 milhões).
A requalificação do Parque Rachel de Queiroz representa uma das principais conquistas desse trabalho, que está chegando ao último ano de implementação. Com 10 quilômetros de extensão e cerca de 203 hectares, o parque, dividido em 19 trechos, é o segundo maior da cidade. Já foram concluídas, em fevereiro de 2022, obras de requalificação em quatro trechos, que cobrem uma área de 12,9 hectares. Obras em mais dois estão em execução e devem ser concluídas em março de 2024.
Em um dos trechos já concluídos – o do bairro Presidente Kennedy –, havia um grande espaço alagado, usado para despejos irregulares de lixo. Hoje está implementada uma solução considerada exemplar, que vem contribuindo para a redução de poluição do curso d'água e minimizando localmente os alagamentos, além de trazer benefícios para a população, a biodiversidade e a economia local.
Trata-se de um sistema de zonas úmidas (wetlands) formado por nove lagoas que se comunicam entre si. A água, que vem do Riacho Cachoeirinha, vai passando por gravidade de uma lagoa a outra e, no processo, ocorre uma limpeza natural ou biorremediação. Isso leva a uma melhoria da qualidade do recurso hídrico. Também foram plantadas mais de 1.000 árvores e criados espaços qualificados para o lazer da comunidade.
O Parque Rachel de Queiroz renasce como exemplo de utilização de “soluções baseadas na natureza”, que primam pela reprodução de processos naturais e representam um dos diferenciais do projeto. Elas são usadas para proteger, recuperar, criar e/ou gerenciar ambientes naturais ou modificados (ambientes costeiros ou ribeirinhos, por exemplo). Relacionam-se intimamente com os objetivos de adaptar os ambientes a eventos climáticos extremos (como chuvas intensas) e/ou mitigar os efeitos desses fenômenos.
“Na maior parte dos casos, as soluções baseadas na natureza propiciam, para além dos benefícios ambientais, uma série de benefícios socioeconômicos, como ampliação dos espaços de lazer e esportes; promoção da economia e dos negócios locais; e aumento da biodiversidade, entre outros”, comenta a especialista sênior em Desenvolvimento Urbano Hannah Kim, gerente do projeto no Banco Mundial.
Foi exatamente o que ocorreu no trecho do Parque Rachel de Queiroz no bairro Presidente Kennedy. Por meio do projeto, foram instaladas pistas de caminhada e ciclovias e uma área de lazer e esportes. Além disso, sob a coordenação da Prefeitura, criou-se uma programação de atividades culturais e educacionais. As novidades atraíram visitantes à região e permitiram o surgimento de vários negócios no entorno. Estima-se que as melhorias tenham beneficiado cerca de 70 mil pessoas.
“É uma forma inovadora de projetar a infraestrutura urbana. Assim, possibilitamos que o uso público dos equipamentos urbanos aconteça em harmonia com os ciclos da natureza e a preservação da biodiversidade local”, diz Luciana Lobo, Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Fortaleza.
Em reconhecimento pelo avanço na restauração, o Parque Rachel de Queiroz foi indicado ao prêmio Loop Design, um dos prêmios mais respeitados em arquitetura e design. Também recebeu o prêmio Obra do Ano 2023 pela plataforma online Archdaily, líder em arquitetura e design.