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REPORTAGEM 16 de novembro de 2021

Cabo Verde: De um Passado de Isolamento a um Presente de Esperança em Ribeira Dos Picos

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Artemisa Monteiro, 36 anos, uma agricultora local e mãe de 4 filhos, aguarda ansiosamente pela reabilitação da estrada de Ribeira dos Picos, que a conectará com mercados onde poderá vender os seus produtos. Município de Santa Cruz, Cabo Verde. 

© Marco Medina Silva, Banco Mundial


DESTAQUES DO ARTIGO

  • Nos anos 80 e 90, a região de Ribeira dos Picos foi uma das maiores produtoras e exportadoras de produtos agrícolas em Cabo Verde.
  • Entretanto, a malha viária deteriorou-se ao longo do tempo, isolando a população de acessos a mercados e a serviços essenciais.
  • A recente renovação da estrada de Ribeira dos Picos traz novas possibilidades e esperanças.

SANTA CRUZ, Cabo Verde, 16 de Novembro, 2021 – Ao percorrermos as margens da Ribeira dos Picos, é impossível não notar o vale verdejante a contrastar com a aridez da paisagem no resto da região. Considerado um dos maiores cursos de água do país, a emblemática Ribeira dos Picos é a fonte primária de rendimentos para a maioria dos 6500 habitantes do vale. Aí cultivam cana-de-açúcar, vegetais e banana, entre outros produtos.

O vale está localizado no município de Santa Cruz, 34km a norte da Praia, capital de Cabo Verde. Nos anos 80 e 90, esta área tornou-se numa das maiores produtoras e exportadoras de produtos agrícolas de Cabo Verde e sede do maior complexo agroalimentar do país. Hoje em dia, a pesca, a pecuária e a agricultura ainda são as principais atividades na geração de rendimento para a população, 60% da qual tem menos de 20 anos de idade.

Entretanto, ao longo dos anos, a rede de estradas mostrou-se vulnerável e com custos de manutenção elevados, por conta da geografia (encostas íngremes), da geologia (terreno instável e quebradiço, propício a deslizamentos de terra) e do clima (chuvas fortes, potencialmente explicadas pelas mudanças climáticas e com probabilidade de se tornarem cada vez mais comuns). Para além disso, a maior parte dessas estradas foi concebida há décadas, a considerar um volume de tráfego muito menor do que o experimentado atualmente, implicando numa necessidade de remodelação, se não mesmo de reconstrução.


"Quando chovia, o córrego inundava, ao ponto de isolar as comunidades no caminho das correntes e de impedir tanto o fluxo da produção agrícola quanto a mobilidade da população."
Gualdino Tavares,
agricultor de 52 anos em Ribeira do Picos. Cabo Verde.

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Paulino Tavares, 34 anos, é um agricultor local a viver em Ribeira dos Picos há 20 anos. 

© Marco Medina Silva, Banco Mundial


Um Passado de Isolamento 

Apesar de sua beleza e das condições favoráveis à agricultura, durante vários anos os habitantes de Ribeira dos Picos viveram um verdadeiro drama devido à falta de acessos a conectá-los com os mercados onde poderiam vender os seus produtos e receber serviços essenciais, como os ligados à saúde e à educação. Especialmente durante a época das chuvas, que sempre traz tormento.

“Quando chovia, o córrego inundava, ao ponto de isolar as comunidades no caminho das correntes e de impedir tanto o fluxo da produção agrícola quanto a mobilidade da população,” explica Gualdino Tavares, agricultor de 52 anos, com 40 anos de experiência. “Enquanto agricultores, chegámos ao ponto de ter de pagar 300 escudos (cerca de U$3) para cada recipiente de 30kg, para que homens pudessem carregar a mercadoria na cabeça por uma distância de 4 quilómetros. Com duas ou três toneladas de produtos para entregar, era muito caro pagar esse valor para carregar toda a quantidade de produtos. Em conclusão: com frequência ficávamos com produtos não vendidos e arcávamos com grandes prejuízos.”

Recorda-se também dos momentos mais trágicos e complicados, quando não podiam prestar auxílio aos enfermos ou realizar funerais.

Contudo, o passado de isolamento e separação está a ser transformado em esperança e desenvolvimento.

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“Quando chovia, o córrego inundava, ao ponto de isolar as nossas comunidades”, relata Gualdino Tavares, agricultor local de 52 anos na região de Ribeira dos Picos, Cabo Verde. © Marco Medina Silva, Banco Mundial


Tudo Começa Com Uma Estrada

Numa região onde a agricultura é um dos setores a oferecer a maior parte das oportunidades de trabalho, uma das prioridades da agenda económica do Município “é destravar todos os cursos de água de Santa Cruz, de forma a elevar e impulsionar a atividade económica, promover a criação de emprego e melhorar a qualidade de vida da população”, informa Carlos Alberto da Silva, Presidente da Câmara de Santa Cruz.

A transformação da região em direção ao desenvolvimento está a acontecer à medida que avançam os trabalhos de pavimentação e melhoria de estradas, trazendo grandes expectativas aos agricultores do vale. Esses são os ventos da mudança, a trazer horizontes de uma maior prosperidade aos moradores da região.

O Projeto de Reforma do Setor dos Transportes, financiado pelo Banco Mundial, por via da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), em U$46 milhões, tem uma componente para melhoria e manutenção de estradas. Prevê, entre outras obras nas ilhas de Santiago, Brava e Santo Antão, a pavimentação e otimização da estrada de Ribeira dos Picos. A renovação da estrada deve ficar concluída até o início de 2022. Os 7,5 km, que antes consistiam numa estrada de terra batida propensa a inundação, serão agora feitos de concreto betuminoso, uma infraestrutura que irá retirar os habitantes locais do isolamento.

“Estradas contribuem para o desenvolvimento,” explica Eneida Fernandes, Representante do Banco Mundial em Cabo Verde. “Ao conectar as pessoas ao resto da Ilha de Santiago, a nova reabilitação não somente irá apoiar a transformação económica do vale, mas também fortalecerá a coesão social.”

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As obras de pavimentação e melhorias na estrada de Ribeira dos Picos estão a avançar



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