Com as suas praias e a sua localização estratégica ao largo da costa da África Ocidental, Cabo Verde goza de oportunidades únicas para o crescimento. É o país africano que mais reduziu a pobreza desde 1990. Mas a economia do pequeno arquipélago, impulsionada primariamente pelo turismo, tem sido profundamente impactada pela pandemia da COVID-19.
Desde os primeiros relatos, em Março de 2020, o vírus espalhou-se rapidamente e hoje o país já contabiliza mais de 14.000 casos confirmados. Cabo Verde reagiu com agilidade na resposta à pandemia e tornar-se-á o primeiro país africano a receber financiamento do Banco Mundial para a sua campanha de vacinação.
Para aprender mais sobre a logística e as implicações do plano de imunização para a COVID-19, falamos com o Dr. Jorge Noel Barreto, Diretor Nacional de Saúde para o Ministério da Saúde e da Segurança Social de Cabo Verde.
Primeiramente, o senhor poderia nos falar da situação atual em Cabo Verde após quase um ano a lidar com a pandemia?
Na luta contra a pandemia, a proteção da vida e da saúde dos cabo-verdianos continua em primeiro plano. Desde o primeiro caso de COVID-19 detetado em Cabo Verde, a 19 de Março de 2019, o país já registou cerca de 14.500 casos de infeção da SARS-CoV-2, que é a causa da COVID-19, como é sabido. A maioria dessas infeções ocorreu entre mulheres (cerca de 52%) e o grupo mais afetado é o dos jovens adultos entre 20 e 39 anos de idade (cerca de 47%).
O país teve de reorganizar os seus serviços de saúde para evitar expor outros pacientes com doenças crónicas e os necessitantes de cirurgia. Globalmente, não houve uma subida significativa no número de mortes por doenças respiratórias. Ainda assim o impacto nas nossas comunidades tem sido enorme, particularmente para a saúde mental. Com o isolamento e as medidas de confinamento, as pessoas que dependiam de trabalho informal têm sido as mais afetadas. A vacina desperta uma nova esperança e o Governo está a acelerar as medidas para a execução do Plano de Vacinação contra a COVID-19. Já alocou recursos para a implementação e a expansão do plano.
Pode-nos contar um pouco mais sobre esses desafios e quais julga serem as principais prioridades para uma implementação bem sucedida da vacina COVID-19 em Cabo Verde?
Cabo Verde foi um dos primeiros países a procurar o Banco Mundial para apoio à vacinação contra a COVID-19, em Julho de 2020. Para uma nação insular como Cabo Verde, com uma população de cerca de 550.000 pessoas, a disponibilização da vacina é uma das principais prioridades para os próximos meses, na medida em que envolve muito planeamento em termos de logística e de cadeias de valor.
Concentrámos os nossos esforços no sentido de garantir que o país tenha sistemas de cadeia de frio apropriados e toda a logística preparada para armazenagem e transporte seguros das vacinas entre as principais ilhas, e que haja acesso a doses suficientes para vacinar tantas pessoas quanto possível. Também são pontos críticos a formação de todos os vacinadores e a adoção de um sistema de referências técnicas. Esperamos poder vacinar pelo menos 60% da população.
Apesar de todos os desafios, estamos muito confiantes de que os nossos trabalhadores da saúde estão bem preparados para essa imensa tarefa. A primeira prioridade era contar com um plano bem arquitetado e com recursos bem definidos de acordo com as diretrizes da OMS. Adotámos o modelo convencional de vacinação aplicado em outros países para assegurar que pelo menos 95% da população de risco seja incluída na primeira fase de vacinação. Profissionais da saúde, portanto, estarão nas primeiras fileiras, seguidos por pessoas com maiores riscos de formas severas de sintomas. Para além disso, 10.000 profissionais do turismo estarão no quarto grupo prioritário, de forma a ajudar a realavancar o setor do turismo e fornecer mais segurança aos turistas que visitarem o arquipélago.
O que o governo está a fazer para comunicar a respeito da campanha de vacinação e quais sistemas estão a adotar para garantir que haja um acesso justo e equitativo à vacina?
Cabo Verde pode contar com um forte sistema de saúde já existente e se alicerçar globalmente na sua política de imunização bem sucedida – de já 99% de cobertura vacinal no país para a maioria das doenças comuns. Assim, e ao contrário de muitos outros países, não deverá haver muita hesitação quanto às vacinas por parte das pessoas. Baseados na nossa experiência prévia, estamos a desenvolver os planos de uma campanha de comunicação de riscos para conscientizar a população visada quanto à vacinação e para explicar o processo e os critérios de escolha dos grupos prioritários. Essa campanha deverá começar quando as vacinas estiverem disponíveis no país.
Há alguma lição que Cabo Verde poderia partilhar com os seus vizinhos no tocante à preparação e à prontidão?
Primeiro, é necessário que haja um compromisso forte do governo para trabalhar através de diferentes setores. De seguida, é preciso ter uma equipa bem preparada, pronta a dar o seu melhor, e estabelecer com boa antecipação um plano nacional de vacinação e de distribuição juntamente com apoio técnico de parceiros internacionais. Planeamento, compromisso e liderança são fundamentais nesse processo.
O Banco Mundial está a fornecer um financiamento adicional de apoio ao plano de imunização de Cabo Verde e a ajudar com os processos de aquisição da vacina em coordenação com a Iniciativa COVAX de Acesso Global às Vacinas COVID-19. O que mais a comunidade internacional e o Banco Mundial podem fazer para auxiliar países na aquisição justa e acessível de vacinas?
A comunidade internacional pode apoiar países africanos ao trazer a sua competência e experiência técnica de outros países para ajudar a preparar e implementar os seus programas de vacinação. O Banco Mundial tem sido um grande parceiro nesse processo. Em Cabo Verde, beneficiámo-nos de discussões técnicas de alto nível, de respostas atempadas e de aconselhamento para ajudar a alcançar marcos e objetivos cruciais estabelecidos para cada etapa.