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REPORTAGEM 15 de outubro de 2019

As cidades de todo o mundo querem ser resilientes. Mas o que isso significa?

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Ciclovia da Avenida Paulista, em São Paulo. 

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil


População urbana global deve crescer rapidamente nas próximas décadas, o que obriga prefeitos e cidadãos a olhar com mais atenção para questões como clima, espaços verdes e gestão de resíduos sólidos

As Nações Unidas estimam que 4 bilhões de pessoas – mais da metade da população global – vivem nos centros urbanos.

Além disso, o aumento da temperatura global intensifica os riscos de elevação do nível das águas, deslizamentos de terra, secas, furacões e outros desastres, que podem levar 100 milhões de pessoas à extrema pobreza.   

A boa notícia é que, com conhecimento e criatividade, os centros urbanos estão encontrando formas de enfrentar novos e antigos problemas com menos perdas e maior capacidade de recuperação. Em outras palavras, criando resiliência.

Esse foi um dos principais temas da recente conferência Catalisando Futuros Urbanos Sustentáveis, promovida pela Prefeitura de São Paulo, pelo Programa Cidades Sustentáveis e a Plataforma Global para Cidades Sustentáveis (GPSC), do Banco Mundial, com apoio do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, em inglês).

Na troca de experiências – da qual participaram representantes de quatro continentes –, três assuntos estiveram presentes, sempre tendo a resiliência e a sustentabilidade como panos de fundo:

1.       A mudança do clima, tema de que nenhum prefeito conseguirá mais fugir.

2.       Mais espaços verdes, como parques com árvores, pássaros, abelhas e outras espécies. Hoje, cerca de um milhão de espécies animais e vegetais estão em perigo de extinção, prejudicando a capacidade de a natureza armazenar carbono.

3.       Finalmente, o debate sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos foi constante. Sem ele, rios transbordam e substâncias nocivas poluem o ar, entre outros malefícios. Com ele, é possível gerar oportunidades para milhões de pessoas, como as que trabalham na cadeia da reciclagem. Saiba mais a seguir.

Prontas para as mudanças do clima

Grande parte dela ocorre em áreas próximas a riscos naturais, rios e regiões litorâneas, por meio de assentamentos informais e não planejados. A falta de infraestrutura e de planejamento do uso da terra exacerba os riscos aos quais os moradores estão expostos, em especial com as mudanças do clima. Por isso, diversas cidades já estão elaborando seus planos de mitigação e adaptação. São Paulo, por exemplo, espera lançar o seu em junho de 2020.

Recife já tem um, de olho na comemoração dos 500 anos da cidade, em 2037. Um terço da população local mora em áreas de morro, portanto sujeitas a tragédias; e outro terço fica no nível do mar, o que significa alagamentos.

“Fizemos um plano estratégico baseando num conjunto de planos urbanos e ambientais, com participação da sociedade civil e da população, prevendo uma série de ações de mitigação, resiliência e adaptação a todas as consequências da crise climática”, disse na conferência o prefeito Geraldo Júlio.

Nos países desenvolvidos, planos ainda mais ambiciosos estão em curso. Paris se comprometeu a ser uma cidade de emissões zero até 2050 e, para isso, estabeleceu 500 medidas em diversos setores (construção civil, transportes, energia, alimentação, etc.). Entre elas, está o objetivo de usar somente energias verdes (biomassa, eólica e solar) e banir carros a diesel até 2024 e todos os carros movidos a petróleo até 2030.


"Fizemos um plano estratégico baseando num conjunto de planos urbanos e ambientais, com participação da sociedade civil e da população, prevendo uma série de ações de mitigação, resiliência e adaptação a todas as consequências da crise climática"
Geraldo Júlio
Prefeito de Recife, Brasil

Menos asfalto, mais florestas e parques

“Com menos carros na rua, não precisamos de tantos estacionamentos ou asfalto”, disse a vice-prefeita de Paris, Pénélope Komitès. “É possível, por exemplo, usar os prédios de garagem para plantar florestas urbanas, que ajudam a regular a temperatura”, continuou.

Entre outros benefícios, eles capturam carbono e melhoram a qualidade do ar. Tudo isso é bem-vindo em cidades chinesas como Ningbo, que consegue manter mais de 40 quilômetros quadrados de áreas protegidas, mesmo com uma população de 8 milhões de pessoas.

O projeto está em fase preliminar.

Parques também ajudam a amenizar o calor, algo necessário em uma cidade como Caruaru, Pernambuco, onde será construído um parque linear (mais comprido do que largo) com uma ciclovia integrando 14 bairros e com potencial para beneficiar 140 mil pessoas.  

Juntas, essas medidas criam oportunidades para as cidades gerarem crescimento verde, de baixo carbono e competitivo, e para construir sociedades resilientes, inclusivas e habitáveis.

Resíduos ainda pouco sustentáveis

Segundo o relatório Que Desperdício 2.0: Um Retrato Global da Gestão de Resíduos Sólidos até 2050, do Banco Mundial, a taxa global de produção de lixo se tornará duas vezes maior que a de crescimento populacional nos próximos 30 anos. “”, diz o estudo.

Na contramão dessa tendência, São Paulo vem aos poucos adotando metas e ações que podem aliviar o problema. Por exemplo, a Prefeitura aderiu neste ano ao Compromisso Global da Nova Economia de Plástico, com o objetivo de que 100% das embalagens plásticas possam ser recicladas ou reaproveitadas até 2025.

Outra medida é a ampliação dos pátios de compostagem: atualmente, são cinco, que recebem resíduos dos mercados públicos e têm capacidade para até 10 toneladas/dia. Para o fim de 2020, a administração municipal promete 17 pátios, a fim de tratar 100% dos resíduos das mais de 800 feiras livres que ocorrem a cada semana na capital.

Pátios de compostagem, ecopontos para entrega de entulho (a exemplo dos de São Paulo e Caruaru) ou a simples melhora dos sistemas de limpeza urbana (como nos bairros mais precários de Abidjan, Costa do Marfim) estão entre as várias soluções que podem ser adotadas por cidades do mundo todo.

Nem sempre são ideias fáceis de implementar e podem custar caro, mas o custo da inércia tende a ser bem maior, tanto para o meio ambiente quanto para os mais pobres, segundo o relatório do Banco Mundial.



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