REPORTAGEM

Os ‘vulneráveis’ da América Latina, mais perto da classe média do que da pobreza

29 de janeiro de 2016


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Pessoas em ponto de ônibus de Brasília

Mariana Kaipper Ceratti/Banco Mundial

Segundo especialistas em desenvolvimento, eles formam o maior grupo socioeconômico da região

Até pouco tempo, o mundo se dividia basicamente entre ricos, pobres e classe média. Mas, com o progresso social dos últimos anos, principalmente da América Latina na primeira década do milênio, surgiu uma nova classe: a dos vulneráveis. Ela reúne as pessoas que conseguiram sair da pobreza, mas não o suficiente para serem consideradas de classe média.

Em termos monetários, são as pessoas que ganham de 4 a 10 dólares (cerca de 16 a 40 reais) por dia, enquanto a renda da classe média fica entre 10 e 50 dólares (definido pela paridade do poder de compra do dólar em 2005). Os vulneráveis também formam o maior grupo socioeconômico da região: em 2013, reuniam 38% dos latino-americanos. No mesmo ano, os pobres representavam 24% da população da América Latina, e a classe média, 35%.

O grupo fascina os estudiosos não por ter crescido pouco, mas porque permite observar, com sua evolução, o comportamento de um importante setor da população durante a década do auge econômico da América Latina. E essa análise está revelando conclusões importantes. "A renda dos vulneráveis atualmente está muito mais próxima à da classe média... É uma evolução importante, porém pouco discutida", explica o economista Oscar Calvo-González, do Banco Mundial.

Ele comanda o Laboratório de Igualdade da América Latina (Equity Lab), uma plataforma de compartilhamento de microdados, indicadores e análises sobre pobreza, desigualdade e prosperidade.

Mais classe média do que nunca

Há mais ou menos 10 anos, era comum os vulneráveis terem renda pouco acima da linha da pobreza. Ao longo do período, no entanto, a distribuição melhorou enquanto a América Latina se beneficiava dos bons preços das matérias-primas e de uma série de políticas sociais.

Para que se tenha uma ideia, o percentual de pobres caiu pela metade, os vulneráveis cresceram 3% e a classe média aumentou mais de 50%. De fato, nunca tantos latino-americanos foram de classe média.

Agora que a América Latina está em desaceleração – a economia caiu 0,7% em 2015 e deve subir só 0,1% em 2016 –, surgem as perguntas: de que maneira ela pode afetar os índices de pobreza? Os vulneráveis voltarão a ser pobres? Para Calvo-González, é possível que o fenômeno impacte a renda de muitos lares vulneráveis.

"No entanto, como eles agora estão mais distantes da linha de pobreza, pode ser que as taxas de pobreza não aumentem tanto quanto em contrações econômicas anteriores", avalia o economista. Se isso realmente acontecer, a América Latina terá feito um novo avanço social sem precedentes.

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