REPORTAGEM

Brasil: 90% das novas empresas têm acesso a crédito para crescer e inovar

5 de dezembro de 2013

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Yluska Rocha trabalhou como doméstica quando chegou a Brasília, há 20 anos, e hoje tem um bufê de festas: capacitação e crédito foram fundamentais.  

Mariana Ceratti/Banco Mundial

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Um em cada três latino-americanos trabalha por conta própria, segundo novo estudo sobre empreendedorismo e inovação
  • Estudo mostra que Brasil vai bem quando o tema é financiamento de novas empresas, mas ainda precisa melhorar em termos de investimento em pesquisa e criação de patentes
  • As pequenas empresas da América Latina são as que mais tendem a continuar assim depois de 40 anos de fundação

Os empresários Yluska Rocha, 40 anos, e André Guimarães, 44, não são nada adeptos de relógios, pingentes e outros acessórios cintilantes. Ainda assim, andam “um brilho só”, nas palavras da piauiense. Eles são donos de um bufê de festas e, há quatro meses, finalmente conseguiram investir na prataria que lhes ajudará a avançar no competitivo mercado de casamentos de Brasília.

Por trás dos finíssimos talheres, existe a história de um casal que, em dezembro de 2009, montou um negócio em busca de melhores oportunidades profissionais. Aliás, como fazem cerca de 50% dos fundadores de pequenas empresas na América Latina, segundo o novo estudo Empreendedores Latino-americanos, do Banco Mundial.

Três anos depois da abertura, porém, eles se viram estagnados. “Precisávamos comprar utensílios em prata, os preferidos das noivas, e um caminhão para atender a mais eventos. Mas onde conseguir dinheiro para isso?”, lembra Yluska.

O casal encontrou a resposta nos agentes locais de inovação, profissionais oferecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que mostram maneiras de modernizar os processos e a gestão desses negócios. Depois de analisar o caso do bufê, a consultora apresentou aos donos uma série de programas de financiamento.

O Brasil, por sinal, é um dos países latino-americanos onde as novas empresas têm mais acesso a crédito (são 90%), de acordo com o estudo. Só perde para a Bolívia, onde esse percentual é de quase 100%.

E foi assim que os empreendedores conseguiram verbas para equipar o bufê. “Você precisa provar que vai investir aquele recurso corretamente. Depois de aprovar o nosso crédito, o pessoal do banco veio até a empresa, fotografou o caminhão e a prataria”, diz Yluska.

Com as novas aquisições, a expectativa para o próximo ano é aumentar em 30% o volume de negócios. 

O desafio do crescimento

Yluska e André têm várias semelhanças com os donos dos 7,6 milhões de pequenos negócios brasileiros. Para começar, a empresa é de família (23% das registradas no Brasil são assim) e tocada pelos próprios fundadores, assim como 32% dos empreendimentos nacionais. Esses são os maiores percentuais encontrados na América Latina e no Caribe, segundo o relatório do Banco Mundial.

Os empreendedores brasileiros ainda têm em comum o fato de preferirem os setores de comércio (49% dos pequenos negócios) e serviços (31%) ante os de indústria (15%) e construção civil (5%). Os dois primeiros acabam saindo na frente por exigirem menos investimentos iniciais, por exemplo.

Em compensação, nem sempre as empresas dessas áreas têm condições de crescer, gerar mais empregos, investir em pesquisa e desbravar novos mercados. 


" Para conseguir o financiamento, você precisa provar que vai investir aquele recurso corretamente.  "

Yluska Rocha

Dona de bufê em Brasília - DF

“O foco da exportação se volta para indústria, agronegócio e um pouco de serviços. Já os investimentos em conhecimento, pesquisas e patentes são demandas mais recorrentes da indústria”, comenta o presidente do Sebrae Nacional, Luiz Barretto.

“Num comparativo com outras regiões e com países de alta renda, as pequenas empresas da América Latina são as que mais tendem a continuar assim 40 anos depois de sua fundação”, avaliou o economista-chefe do Banco Mundial na América Latina, Augusto de La Torre, durante o lançamento do estudo, em Miami.

O relatório atribui essa limitação à falta de mão de obra qualificada em todas as áreas (sobretudo em engenharia), à burocracia que dificulta a assinatura de contratos e aos baixos investimentos estatais em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil, por exemplo, investe só 1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, ante 0,5% da América Latina.

Capacitação essencial

Do lado do Brasil, uma das boas notícias é que o empreendedor brasileiro está mais bem capacitado, segundo a pesquisa GEM 2012, do Sebrae/IBQP. André e Yluska fazem parte dessa estatística. Antes de largarem os respectivos empregos para montar o bufê, ambos buscaram cursos especializados.

“Eu trabalhava de secretária e o André era funcionário terceirizado em um ministério. Abrimos o negócio depois de ele cursar gastronomia e eu estudar gestão de processos gerenciais”, lembra Yluska.

“Essa formação nos permite acompanhar as tendências e saber exatamente o que entra e o que sai da empresa. É muito importante ensinar isso aos funcionários também”, completa André.

Justamente por saber o que é tendência, a dupla percebeu um novo filão: a nova classe média brasileira. Na mesma época em que recebeu o financiamento, os empresários também abriram – e agora sonham expandir – uma empresa de locação de mesas, cadeiras e outros equipamentos.

“Esse público agora tem condições de fazer uma produção mais caprichada para as próprias festas e churrascos, e precisa ser bem atendido como qualquer outro”, finaliza a empresária. 


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