REPORTAGEM

Reflorestamento no Rio melhora clima, biodiversidade e segurança das favelas

11 de novembro de 2013


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O reflorestamento nos morros do Rio é feito desde os anos 1980. 

Mariana Ceratti / Banco Mundial

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Esforços de reflorestamento protegem os moradores das favelas cariocas contra deslizamentos de terra e outros desastres.
  • As áreas reflorestadas geram créditos de carbono que podem compensar as emissões de gases causadores de efeito estufa ou ser vendidas nos mercados internacionais.
  • A prefeitura do Rio de Janeiro e o Banco Mundial recentemente fizeram uma parceria para intensificar esse trabalho.

Como em uma cena do filme de animação Rio, os bichos que andavam desaparecidos do Morro da Formiga começaram, pouco a pouco, a voltar à região. “Tenho visto canários, azulões, tucanos, macacos…”, deslumbra-se a líder comunitária Nilza Rosa. “Não deixo ninguém mexer nem prender porque eles fazem parte deste ambiente.”

O fenômeno que Rosa descreve é resultado do reflorestamento feito pelo marido – Dejair dos Santos, 66 anos – e pelos colegas. “Trabalho com isso há 25 anos e me orgulho muito”, ele comenta. As mudas que ele vem plantando desde então evitam a erosão do solo, o que costumava causar deslizamentos de terra fatais a cada vez que chovia forte no Rio.

“Fora isso, algumas áreas pegavam fogo facilmente, mas isso nunca mais aconteceu depois que substituímos o capim pelas árvores nativas da Mata Atlântica”, completa. Esse esforço, feito pelos próprios moradores da comunidade, não só ajudou a melhorar a biodiversidade e a diminuir os riscos de desastres no Rio: também permite à cidade resistir aos efeitos das mudanças climáticas.

Morro verde

As áreas reflorestadas apresentam um microclima fresco, algo bem-vindo em uma cidade tão quente e úmida quanto o Rio. As árvores ainda ajudam a reduzir a quantidade de dióxido de carbono no ambiente porque evitam que os poluentes subam até a atmosfera.

Para completar, a cidade ganha créditos de carbono. Eles tanto podem ser usados para compensar as próprias emissões de gases causadores de efeito estufa quanto para ser negociados em mercados internacionais de carbono – o que gera renda extra para o Rio de Janeiro.

Por todos esses motivos, a prefeitura da cidade e o Banco Mundial fizeram uma parceria para ampliar os esforços de reflorestamento nos morros do Rio, onde normalmente estão as favelas. Cerca de 1,2 milhão de pessoas (22% da população do município) vivem nelas. Desse total, cerca de 300 mil estão em condições insalubres, uma consequência direta do desmatamento urbano.

Para combater esse problema, 950 hectares de áreas degradadas foram replantados (desde 2010) com mudas cultivadas em viveiros locais. Esse trabalho faz parte da iniciativa Rio Capital Verde, liderada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC).  


" Tenho visto canários, azulões, tucanos, macacos… Não deixo ninguém mexer nem prender porque eles fazem parte deste ambiente "

Nilza Rosa

Líder comunitária no Morro da Formiga, Rio de Janeiro

Esforço sustentável

“O reflorestamento nos morros do Rio é feito desde os anos 1980, mas, para alcançar as áreas mais altas, a cidade precisa de recursos e assistência técnica. Com os créditos de carbono, é criada uma fonte de renda que dá sustentação a esses esforços”, explica Franka Braun, especialista em financiamento de carbono no Banco Mundial.

“Nessa nova etapa do reflorestamento urbano, o Banco ajuda a prefeitura do Rio a desenvolver os aspectos relacionados à contagem, ao sequestro e ao financiamento de carbono”, acrescenta.

A SMAC vem medindo o potencial de ampliação do reflorestamento nas zonas mais distantes da cidade. Essas áreas precisam atender não só aos requisitos do Rio Capital Verde, mas também aos do Padrão Verificado de Carbono. Cerca de 5 mil hectares se encaixam nesses critérios.

À medida que as novas árvores forem crescendo, o Programa de Baixo Carbono do Rio de Janeiro, lançado pelo Banco Mundial e a prefeitura durante a Rio+20, avaliará o impacto no clima e os créditos de carbono gerados pela iniciativa.

Novas gerações

Hoje o Rio busca diminuir as próprias emissões de carbono em 16% até 2016 e em 20% até 2020 (na comparação com os níveis de 2005). Antes de traçar sua estratégia verde, no entanto, a cidade sofreu por muitos anos com o desenvolvimento desordenado.

Ainda no século 19, uma parte da cobertura de Mata Atlântica foi desmatada e substituída por plantações de café que posteriormente foram abandonadas. Anos depois, madeireiros cortaram milhares de árvores para serem usadas na construção de prédios e navios. Desde os anos 1940, a expansão das favelas nos morros também contribuiu para aumentar as taxas de desmatamento.

Atualmente, com o reflorestamento, os moradores do Morro da Formiga têm menos medo de enchentes e deslizamentos de terra. E trabalham para que as futuras gerações cuidem do meio ambiente.

“Há pouco tempo, eu e os colegas notamos que as crianças queimaram a trilha que levava a uma cachoeira. Substituímos o capim da área por árvores frutíferas e organizamos uma caminhada bem divertida para mostrar a elas a importância de preservar a área. Todos adoraram, e agora queremos fazer isso sempre para garantir um futuro verde para a comunidade e o mundo”, Santos conclui. 


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