Duas vezes por semana, a analista de comércio exterior Amanda Oliveira, 33 anos, troca o carro pela bicicleta. Antes de pedalar 7km de casa até o escritório, veste-se com roupas luminosas e se prepara para encarar a intolerância que muitos motoristas ainda sentem pelos ciclistas.
“Tem gente que desrespeita, xinga, mas o esforço vale a pena. Além de ser um carro a menos na rua, o exercício me proporciona cuidado com a saúde, contato com a cidade e com o meio ambiente”, analisa. Amanda trabalha em uma das regiões mais congestionadas de São Paulo: a da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklyn, zona sul da cidade.
Dentre os carros que circulam nos horários de pico, 53% transportam só uma pessoa – no resto da cidade, a média é de 31% –, segundo a Pesquisa Origem/Destino (2007), do Metrô de São Paulo. O resultado se sente na hora de deixar as garagens dos prédios de escritórios: pode-se levar até 30 minutos para sair.
Para ajudar a desafogar o trânsito no local, o Banco Mundial criou uma parceria com 17 empresas, que somam 1.500 funcionários. Todas estão localizadas no Centro Empresarial Nações Unidas (CENU) e no World Trade Center (WTC).
O projeto piloto ajuda os trabalhadores a descobrir alternativas ao carro. Entre elas, bicicleta, caronas, trem e ônibus fretados. Ainda incentiva as empresas a oferecer horários flexíveis ou teletrabalho (home office).
Cansados do trânsito
“Não foi difícil convencer as empresas a participar do projeto, porque todo mundo está cansado do trânsito paulistano”, explica Andréa Leal, especialista do Banco Mundial na área de políticas públicas.
“O Banco hoje investe mais de R$ 2 bilhões nos trens e metrôs de São Paulo, mas os projetos custam caro e levam tempo para serem concluídos. Por isso, é importante também mexer na demanda por transporte”, acrescenta.
Além de envolver as empresas, o projeto fechou parcerias com a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento (Transfretur), a Caronetas (site que organiza caronas entre pessoas que trabalhem em lugares próximos), a Zazcar (empresa de aluguel de carros por hora ou dia) e a ONG Bike Anjo.
Com a ONG – cujos voluntários mostram como é possível adotar a bicicleta como meio de transporte cotidiano – por exemplo, foi feito um workshop e um passeio ciclístico. “Foi a partir do workshop que me animei a vir de bicicleta para o trabalho. Quero que os colegas saibam como isso é viável. O problema ainda é a falta de vestiários e chuveiros no prédio”, diz Amanda.