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REPORTAGEM

Gota a gota, agricultores do Ceará vencem a seca e a pobreza

4 de janeiro de 2013


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Deusimar Cândido colhe goiabas no Vale do Forquilha, Ceará: há cerca de uma década, as plantações da comunidade dependiam totalmente da água das chuvas.

Mariana Ceratti/World Bank

DESTAQUES DO ARTIGO
  • Desde 2001, uma parceria entre o Banco Mundial e o governo do Ceará provê água e saneamento a famílias rurais.
  • Os produtos desses agricultores hoje são cultivados com técnicas sustentáveis. Podem ser encontrados tanto em supermercados quanto na merenda escolar.
  • A terceira fase do projeto já começou e beneficiará 60 mil famílias.

Vale do Forquilha, Quixeramobim, Ceará: aqui, no coração de um dos estados mais secos do Brasil, o verde dos pomares contrasta com a paisagem seca do semiárido.

Enquanto os pés de mamão dão flores, as goiabeiras exibem frutos quase maduros, levemente perfumados. “Pegue umas, tem um monte”, convida Deusimar Cândido, 47 anos, presidente da associação local de pequenos agricultores.

Há pouco mais de uma década, essa abundância era apenas um sonho para ele e as 180 famílias que vivem na região. “Nossa agricultura era de sequeiro. Se chovesse, a gente colhia. Do contrário, era perda total”, ele lembra.   

Com o apoio de uma parceria (mais conhecida como Projeto São José) entre o Banco Mundial e o governo do Ceará, esses agricultores implementaram a tecnologia que, o ano inteiro, permite a eles puxar água do solo.

Na comunidade, eles também instalaram um sistema de irrigação por gotejamento – que, com mangueiras e bocais, direciona a água somente para onde a planta precisa. “Plantamos frutas e verduras com a certeza de que vamos colher. Cada família consegue tirar pelo menos R$ 1,5 mil ao mês”, conta.

Ultimamente, Cândido sonha com o dia em que o sistema de irrigação da comunidade será controlado por computador.

“A irrigação por gotejamento dá certo no semiárido porque com ela os agricultores podem diversificar a produção e melhorar a colheita sem gastar muita água”, explica Fatima Amazonas, especialista em desenvolvimento rural no Banco Mundial.

De 2001, quando começou a primeira fase do trabalho (a segunda iniciou-se em 2006), a 2010, aproximadamente 185,5 mil famílias em todo o Ceará tiveram benefícios parecidos.


" Nossa história mostra aos jovens que eles podem ficar no campo e ter o próprio negócio. "

Deusimar Cândido

Agricultor

Em novembro passado, começou uma nova etapa da iniciativa, que vai até o fim de 2016. Nessa fase, água e saneamento serão levados a 60 mil famílias rurais. Elas também terão a chance de aprender técnicas agrícolas sustentáveis e ampliar o acesso aos mercados consumidores.  

Além disso, o projeto fortalecerá a assistência técnica dada aos agricultores nas duas primeiras etapas.

Um canteiro para chamar de seu

“Assistência técnica” é uma expressão que a agricultora Socorro Fernandes, 47 anos, repete com frequência enquanto fala do canteiro em que ela e as quatro colegas trabalham.

O cheiro verde – feito com cebolinha e coentro – plantado por elas pode ser encontrado em supermercados e na merenda escolar das escolas públicas locais. “Já aprendemos a fazer nossos fertilizantes, por exemplo. Estamos trabalhando para que essa plantação seja totalmente orgânica.”

Há 12 anos, Fernandes largou a carreira de professora em uma escola municipal para plantar no Vale do Forquilha. “Muita gente mangava de mim por causa dessa decisão. Agora, essas pessoas também querem ter um canteiro.”

Deusimar Cândido também conhece casos de quem quer retornar ou já voltou às raízes rurais – a começar por ele mesmo. “Nossa história mostra aos jovens que eles podem ficar no campo e ter o próprio negócio”, ele avalia. Fatima Amazonas, do Banco Mundial, concorda: “Esses agricultores não teriam as mesmas oportunidades se vivessem na cidade”.


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