MAPUTO, 12 de Dezembro de 2016 - A perspectiva económica de Moçambique é incerta, pois o país enfrenta uma crise económica contínua, agravada pelas consequências da descoberta de dívidas ocultas no início deste ano, de acordo com a última análise económica do Banco Mundial para o país.
Enquanto os baixos preços das matérias-primas, a seca e o conflito armado contribuíram para o abrandamento económico, a Actualidade Económica de Moçambique (MEU): Enfrentando Escolhas Difíceis, diz que a descoberta de US $ 1,4 bilhão em empréstimos comerciais não divulgados já prejudicou a confiança no país e descarrilou o seu histórico de crescimento elevado e de estabilidade económica. Após três trimestres consecutivos de abrandamento da actividade económica em 2016, o MEU prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6 porcento para este ano.
De acordo com o relatorio, o metical depreciou-se em 42 porcento face ao dólar americano nos primeiros 10 meses do ano. O já fraco metical acelerou o ritmo da inflação, que atingiu 25 porcento em Outubro. A inflacção dos preços dos alimentos aumentou para 40 porcento, fazendo com que este fenómeno seja o mais visível sintoma da crise económica sentida pelos moçambicanos.
O relatório refere ainda, que o investimento directo estrangeiro e as exportações deverão cair em 17 e 8 porcento, respectivamente, em 2016.
Restabelecimento da confiança e restauração da estabilidade
O MEU observa que a resposta em políticas acelerou no segundo semestre de 2016. O orçamento rectificativo do governo para 2016 foi um primeiro passo para o ajuste do quadro fiscal às novas realidades. O Banco de Moçambique segundo o relatório, também intensificou o seu regime de aperto monetário e há sinais de que as pressões sobre a posição externa estão a diminuir à medida que as importações diminuem e o metical permaneceu relativamente estável entre os meses de Outubro e Novembro de 2016. O início de uma auditoria independente aos créditos concedidos às empresas EMATUM (Empresa Moçambicana de Atum), MAM (Mozambique Asset Management), e Proindicus, constituiu um passo fundamental na reconstrução da confiança.
"Moçambique mantém as suas perspectivas de crescimento nos próximos anos, mas o desafio imediato continua a ser para os decisores políticos concentrar esforços na restauração da sustentabilidade fiscal e garantir, simultaneamente, que a riqueza futura estimule o crescimento da economia não baseada em megaprojectos", disse Shireen Mahdi, Economista sénior do Banco Mundial para Moçambique.
De acordo com o MEU, as perspectivas de produção de gás em Moçambique moldam expectativas para uma recuperação do crescimento para 6,6 porcento até 2018. Entretanto, o relatório observa que os megaprojectos existentes estão a mostrar resiliência e podem beneficiar de um impulso a curto prazo a partir de uma melhoria das perspectivas para os principais preços das matérias-primas.
Para restabelecer a confiança e a estabilidade económica, o MEU destaca a larga agenda que está por vir para o governo moçambicano. A curto prazo, o relatório diz que muito se apoia no resultado das negociações da dívida iniciadas pelo governo e no tratamento transparente da auditoria independente.
Além disso, as recomendações do relatório incluem os seguintes itens-chave:
- Estabelecer um quadro de médio prazo para restabelecer a sustentabilidade orçamental, ancorado num objectivo de redução da dívida e um programa de ajustamento fiscal credível;
- Reforçar a vigilância do sector financeiro e o reforço dos instrumentos de gestão de crises, em especial se se prevê um maior rigor monetário a curto prazo;
- Gerir melhor os riscos fiscais e passivos contingentes;
- Implementar reformas para desenvolver uma supervisão eficaz sobre as empresas estatais e outras entidades públicas, juntamente com reformas para reformular o quadro de gestão de garantias.