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Publicação15 de janeiro de 2025

Uma ação climática ambiciosa trará grandes dividendos para Cabo Verde

The World Bank

Peixeiras e pescadores a arrastar um barco no Tarrafal.

Crédito: Marco Silva / Banco Mundial

Cabo Verde, um pequeno país insular no Oceano Atlântico, enfrenta um momento decisivo no seu processo de adaptação aos efeitos das alterações climáticas. O Relatório sobre o Clima e Desenvolvimento de Cabo Verde (CCDR) revela uma dupla realidade - por um lado, vulnerabilidades gritantes e, por outro, oportunidades de inovação e sustentabilidade. O relatório traça um rumo ousado e necessário para que o país não só sobreviva como prospere face à transformação.

Uma ameaça crescente

A geografia de Cabo Verde torna-o excecionalmente vulnerável. A subida do nível do mar ameaça as suas deslumbrantes linhas costeiras, das quais depende grande parte da indústria turística do país. Sendo um país com escassez extrema de água, as secas mais frequentes e intensas e a intrusão salina põem em risco a sua agricultura, uma fonte fundamental de rendimento e segurança alimentar para as comunidades rurais. O aquecimento dos oceanos e a sobrepesca ameaçam o setor das pescas, que representou 72% das exportações em 2021. Ao mesmo tempo, a sua dependência de combustíveis fósseis e alimentos importados deixa-o exposto às flutuações dos mercados internacionais. Estas vulnerabilidades dão uma imagem preocupante: sem ação, as alterações climáticas poderão reduzir o PIB do país até 3,6% em 2050. As receitas do turismo, por si só, poderão registar uma quebra de 10%, o que constitui um duro golpe para a espinha dorsal da economia.

No entanto, a CCDR defende que, com uma ação decisiva, a nação pode transformar esta crise numa oportunidade para reimaginar o seu caminho de desenvolvimento.

Uma visão para a transformação

The World Bank
Porto da Praia, na Ilha de Santiago - Crédito: Marco Silva / Banco Mundial

A mensagem da CCDR é clara: a resiliência e a sustentabilidade devem definir o futuro de Cabo Verde. O país estabeleceu um objetivo ambicioso de atingir uma penetração de 100% de energias renováveis até 2040, uma mudança que diminuirá a dependência de combustíveis importados caros, reduzindo o custo da eletricidade e gerando poupanças na importação de combustíveis no valor de 1,8 mil milhões de dólares (com desconto) entre agora e 2050. Os investimentos em energia solar, eólica e outras energias renováveis oferecem múltiplos dividendos, reforçando a segurança energética, abrindo oportunidades para a mobilidade eletrónica, a dessalinização com baixo teor de carbono e tornando-se um centro de serviços digitais, ao mesmo tempo que criam empregos em setores verdes emergentes.

A energia é apenas uma parte da solução. O turismo deve evoluir para se tornar mais resiliente e diversificado. A CCDR salienta a importância de ir além do turismo de "sol e praia", investindo no ecoturismo, no turismo criativo e cultural, no iatismo e na pesca desportiva, que são menos vulneráveis aos riscos climáticos e oferecem oportunidades de expansão para além da atual concentração geográfica no Sal e na Boa Vista. Esta diversificação é fundamental para manter a competitividade de Cabo Verde no mercado global, protegendo simultaneamente os seus frágeis ecossistemas.

A economia azul também tem um potencial imenso. Cabo Verde pode aproveitar os seus vastos recursos oceânicos através da pesca sustentável, da aquacultura e de medidas de proteção costeira. Uma abordagem integrada de gestão da água e da terra será crucial para reforçar a segurança alimentar e aumentar a produção alimentar, a fim de reduzir as importações de alimentos, que representam 80% do consumo interno de alimentos. Os investimentos em tecnologias de dessalinização com baixo teor de carbono podem ajudar a resolver a questão premente da escassez de água, garantindo que as comunidades, os agricultores e as indústrias tenham acesso a este recurso fundamental.

A existência de infra-estruturas resilientes é outra pedra angular da estratégia. As estradas, os portos, os aeroportos e as infra-estruturas urbanas devem ser planeados e melhorados sempre que necessário para resistir à crescente frequência e magnitude dos fenómenos extremos. Ao incorporar o risco climático no planeamento e nas operações das infra-estruturas, Cabo Verde pode garantir que a sua economia e as suas comunidades permaneçam ligadas e seguras, mesmo face a choques climáticos. Aumentar e assegurar a conetividade inter-ilhas será crucial para prestar serviços à sua escassa população e promover a logística e as cadeias de valor.

Mobilização de recursos para a ação climática

A concretização desta visão requer recursos substanciais. A CCDR estima que Cabo Verde precisará de investir aproximadamente 140 milhões de dólares americanos anualmente - cerca de 6% do seu PIB - até 2030 para lidar com os seus desafios climáticos e de desenvolvimento. Este nível de investimento exige um esforço coordenado entre os setores público e privado, bem como o apoio da comunidade internacional.

Os mecanismos de financiamento inovadores desempenharão um papel fundamental. Cabo Verde pode aproveitar os mercados de carbono e o financiamento concessional para atrair os fundos necessários. A troca de dívida por desenvolvimento é promissora e, quando as restrições à contração de empréstimos diminuírem, Cabo Verde poderá considerar a emissão de obrigações ligadas à sustentabilidade. As parcerias público-privadas também serão fundamentais, especialmente em setores como a energia, a gestão de resíduos e os transportes. No entanto, o financiamento por si só não é suficiente. Uma governação forte e um quadro jurídico favorável são essenciais para garantir que os recursos são utilizados de forma eficaz e que os objetivos climáticos são integrados no planeamento nacional. O país já deu passos significativos nesta direção com a adoção da sua Lei das Alterações Climáticas de 2024, que dá prioridade à adaptação e à resiliência em todos os setores.

Um futuro construído sobre oportunidades e um apelo à ação coletiva

The World Bank
Vale da Ribeira Grande, na Ilha de Santo Antão - Foto: Marco Silva / Banco Mundial

Embora os desafios sejam imensos, a CCDR salienta que uma ação climática rápida e ambiciosa pode colher grandes dividendos para Cabo Verde. Ao investir em energia verde, turismo sustentável, gestão integrada da água e da terra e economia azul, Cabo Verde pode compensar os efeitos negativos das alterações climáticas e estimular o crescimento e a inovação. Estes esforços também melhorarão a resiliência externa da nação, reduzindo a sua dependência das importações de combustíveis e alimentos e criando novas oportunidades de emprego.

O relatório sublinha igualmente a importância da inclusão. A ação climática não deve deixar ninguém para trás, particularmente os grupos vulneráveis como os jovens, as mulheres e as comunidades rurais. Programas de proteção social, educação e formação de competências podem garantir que todos os cabo-verdianos beneficiem da transição.

A CCDR de Cabo Verde não é apenas um relatório - é um apelo à ação. Exorta o governo, o setor privado, a sociedade civil e os parceiros internacionais de desenvolvimento a unirem forças na construção de um futuro mais resiliente e sustentável. Os riscos são elevados, mas também o são as recompensas. Com os investimentos e as políticas corretas, Cabo Verde pode transformar as suas vulnerabilidades em pontos fortes e tornar-se um modelo global de sustentabilidade.

Não se trata apenas de nos adaptarmos a um mundo em mudança. Trata-se de moldar um futuro em que as pessoas e o ambiente de Cabo Verde prosperem juntos. Ao fazê-lo, a nação pode inspirar outros pequenos Estados insulares a seguir o seu exemplo, provando que, mesmo perante a adversidade, a ação ousada e a visão coletiva podem transformar desafios em oportunidades.