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REPORTAGEM 8 de março de 2018

Brasil: Uma diretora contra a evasão escolar feminina

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Foto: Juliana Braga/Banco Mundial


Em Pugmil, Tocantins, Elizete Viana tem lutado para que as adolescentes não deixem a escola, tornando-se vulneráveis à violência de gênero

No Brasil, cerca de 22% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. Entre as meninas, as causas incluem gravidez precoce, casamento infantil e prostituição. No município de Pugmil, interior do Estado do Tocantins, a diretora da Escola Estadual Darcy Ribeiro, Elizete Batista Viana, 51 anos, tem feito da educação uma ferramenta para reverter esse quadro. Por meio do projeto Desenvolvimento Regional Sustentável Integrado do Tocantins, realizado em parceria com o Banco Mundial, sua escola e mais cinco adotarão um programa de conscientização sobre a violência de gênero, seja física, psicológica ou sexual.

Diretora há um ano da unidade de Ensino Médio, Elizete sabe que a medida vem em boa hora. Devido à proximidade da escola com a BR-153, ela já perdeu alunas para a prostituição. “Com o posto de gasolina localizado bem próximo à escola, muitos caminhoneiros param aqui durante à noite. Os meninos são atraídos pela possibilidade de ganhar dinheiro passando ‘o pretinho’, uma mistura de graxa, nos pneus para dar brilho. Já as meninas acabam se prostituindo ou fogem com os motoristas”, conta a diretora.

Tão logo identificou o problema, Elizete decidiu tomar medidas para combater a evasão escolar. Para além das palestras na escola sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), ministradas por representantes do posto de saúde local, a diretora decidiu ir atrás das alunas e de seus responsáveis para tentar trazê-las de volta à escola.

“Converso muito com as meninas sobre a importância do estudo para que possam arranjar melhores empregos, ganhar o próprio dinheiro e não se sujeitarem a situações de violência”, explica Elizete. “Vejo muitas meninas dizendo que não saem de situações abusivas porque não têm como se sustentar.”

Em muitos casos, no entanto, o apelo do dinheiro é mais forte do que do estudo. “Muitas vezes as meninas são de famílias com poucos recursos financeiros e o dinheiro acaba sendo um incentivo para não largarem essa vida”, diz a diretora. “Já tivemos um caso de uma jovem que casou com um homem mais velho que trabalhava em uma obra aqui na cidade. Quando a construção acabou, a menina foi deixada para trás”.

Soma-se a isso o fato de que muitas das meninas são filhas de mães solteiras ou prostitutas, vendo como natural passarem pelo mesmo. “Às vezes, os pais não acham preocupante as filhas largarem os estudos porque eles mesmos tiveram de fazer isso”, explica Elizete.

Ainda assim, a diretora não acha que a batalha esteja perdida. “Eu tenho sempre esperança de que elas vão voltar”, diz. “Converso sempre com eles sobre a valorização do estudo. Sempre falo para meninas e meninos que eles têm que levar em conta que hoje são jovens, mas isso passa. E que as meninas também não devem acreditar que seu valor está apenas na aparência. Também isso é passageiro”. 


"Minha mãe dependia muito do marido, que trabalhava na roça. Eu via o sofrimento dela e dizia a mim mesma que não queria ter uma vida assim"
Elizete Viana
Diretora de escola

Como exemplo, a diretora conta sua própria história. Aos 14 anos, Elizete se viu ameaçada de parar de estudar por não ter recursos para comprar o material escolar. No entanto, professoras se juntaram para poder comprar o material necessário para que ela continuasse na escola. 

Desde então, Elizete tem aproveitado toda oportunidade de aprendizagem que surgiu. “Minha mãe sempre me falava que eu deveria aprender tudo que eu pudesse”, conta. “Eu aprendi a ler antes dela. Minha mãe dependia muito do marido, que trabalhava na roça. Eu via o sofrimento dela e dizia a mim mesma que não queria ter uma vida assim”. 

Neste ano letivo, iniciado no dia 22 de fevereiro, a diretora já tem o que comemorar: alguns alunos decidiram voltar às salas de aula. Para eles, Elizete montou um esquema todo especial. “Converso com os professores para que eles tenham maior atenção, de forma que não se desestimulem”, revela. 

Para as meninas, Elizete tem um conselho ainda mais especial: “É preciso ser uma mulher de garra e não ter medo de enfrentar o que vier”. Mais do que um conceito, é empoderamento na prática.

Sobre o Projeto

O projeto Desenvolvimento Regional Sustentável Integrado do Tocantins visa aumentar a eficiência do transporte rodoviário - principalmente as malhas rodoviárias estaduais e rurais - e apoiar o fortalecimento institucional de cinco setores: administração pública, agricultura, turismo, meio ambiente e educação. Embora o projeto não inclua obras rodoviárias especificamente na BR-153, ele visa reduzir o risco atual de violência de gênero ao longo da rodovia como parte do componente educacional do projeto.  



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