No Brasil, cerca de 22% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. Entre as meninas, as causas incluem gravidez precoce, casamento infantil e prostituição. No município de Pugmil, interior do Estado do Tocantins, a diretora da Escola Estadual Darcy Ribeiro, Elizete Batista Viana, 51 anos, tem feito da educação uma ferramenta para reverter esse quadro. Por meio do projeto Desenvolvimento Regional Sustentável Integrado do Tocantins, realizado em parceria com o Banco Mundial, sua escola e mais cinco adotarão um programa de conscientização sobre a violência de gênero, seja física, psicológica ou sexual.
Diretora há um ano da unidade de Ensino Médio, Elizete sabe que a medida vem em boa hora. Devido à proximidade da escola com a BR-153, ela já perdeu alunas para a prostituição. “Com o posto de gasolina localizado bem próximo à escola, muitos caminhoneiros param aqui durante à noite. Os meninos são atraídos pela possibilidade de ganhar dinheiro passando ‘o pretinho’, uma mistura de graxa, nos pneus para dar brilho. Já as meninas acabam se prostituindo ou fogem com os motoristas”, conta a diretora.
Tão logo identificou o problema, Elizete decidiu tomar medidas para combater a evasão escolar. Para além das palestras na escola sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), ministradas por representantes do posto de saúde local, a diretora decidiu ir atrás das alunas e de seus responsáveis para tentar trazê-las de volta à escola.
“Converso muito com as meninas sobre a importância do estudo para que possam arranjar melhores empregos, ganhar o próprio dinheiro e não se sujeitarem a situações de violência”, explica Elizete. “Vejo muitas meninas dizendo que não saem de situações abusivas porque não têm como se sustentar.”
Em muitos casos, no entanto, o apelo do dinheiro é mais forte do que do estudo. “Muitas vezes as meninas são de famílias com poucos recursos financeiros e o dinheiro acaba sendo um incentivo para não largarem essa vida”, diz a diretora. “Já tivemos um caso de uma jovem que casou com um homem mais velho que trabalhava em uma obra aqui na cidade. Quando a construção acabou, a menina foi deixada para trás”.
Soma-se a isso o fato de que muitas das meninas são filhas de mães solteiras ou prostitutas, vendo como natural passarem pelo mesmo. “Às vezes, os pais não acham preocupante as filhas largarem os estudos porque eles mesmos tiveram de fazer isso”, explica Elizete.
Ainda assim, a diretora não acha que a batalha esteja perdida. “Eu tenho sempre esperança de que elas vão voltar”, diz. “Converso sempre com eles sobre a valorização do estudo. Sempre falo para meninas e meninos que eles têm que levar em conta que hoje são jovens, mas isso passa. E que as meninas também não devem acreditar que seu valor está apenas na aparência. Também isso é passageiro”.